domingo, 18 de janeiro de 2015

A floresta amaldiçoada.





Na Floresta Negra habitam monstros, enfeitiçados e induzidos num coma assassino, esfomeados e devassos. Esta floresta em tempos foi habitada por homens que a destruíram e a tornaram num palácio de bruxos negros e druidas amaldiçoados. A inveja e a ganância disseminaram-se nos espíritos dos humanos tornando-os cegos, incapazes de travarem a sua malícia e força maldita.
Dois rapazes oriundos duma aldeia que vivia da agricultura e da criação de gado, um chamava-se Pedro e outro chamava-se Hugo. Eram dois miúdos espevitados, alegres, entusiastas, com vontade de descobrir o mundo que ouviam falar que possuía figuras mágicas e fantasistas. Um dia caminhavam na Floresta Negra e diziam um para o outro
“Fogo Pedro, dizem tanto desta Floresta e ainda não vi nada de transcendente “
… Resmungava Hugo desgostoso, mas de repente uma clareira de luz extasiou as retinas do Hugo e 

Pedro. Quando conseguiram abriram os olhos ainda titubeantes, uma ave branca, esvoaçante, de asas enormes e uns olhos esverdeados enormes, pairava por cima deles.
E uma fada montada em cima da ave gigante, com um cetro que emanava um feixe poderosíssimo de luz pura, perguntava firme, o que faziam ali 2 jovens, perdidos, entregues aos caprichos negros da Floresta.
Pedro dizia: “ Viemos cá tentar perceber se é verdade que existem monstros, dragões ou bruxos negros nesta tão densa floresta”
Hugo também dizia: “ Perdemo-nos nas horas, acha que devemos ir para casa?”
A Fada branca respondeu:

“ Isto é uma terra amaldiçoada pelo Bruxo Negro! Criou dragões furiosos, cobras esfomeadas e batedores que andam na Floresta a tentar descobrir quem entra cá, para ser sacrificado em prol da maldade do Bruxo! Eu vim em vosso socorro, do alto do meu céu, vi que 2 rapazinhos indefesos estavam a entrar na Floresta Negra, sem estarem cientes dos perigos. Tive de Intervir e agora vou-vos guiar de volta a casa”
Hugo e Pedro ficaram gelados, o medo entrou-lhes nas veias de forma quase automática, como uma descarga de temor que os desligava da realidade, fazendo-os entrar numa hipnose de paralisia e nervosismo. Num repente, Hugo é levado por um dragão que apareceu tão rápido como flui o pensamento humano, com as garras pegou em Hugo e levou-o para o Castelo da Desgraça.

A Fada Branca e Pedro ficaram inertes e mal acordaram do sucedido, já o pó assentara, a Fada pegou em Pedro e levou-o para o seu refúgio, onde estavam também alguns sábios, anciães, mestres e mágicos do bem, de magia branca, que refutavam a escuridão como o Diabo refuta a cruz. Ao saberem do sucedido, todos começaram a elaborar planos de resgate do rapaz entregue às garras malignas do sádico bruxo.

Mas tudo tinha quer ser feito com a maior calma, ponderação, perspicácia e eficácia. Pedro estava maravilhado. Aquele mundo fantástico que tanto tinha lido nos escritos do seu pai e que tanto o fizeram sonhar acordado, finalmente era verdade, era real. Estudou-se muito a melhor maneira de entrar no Castelo da Desgraça conhecido pelas suas armadilhas sangrentas, flechas ardentes, alçapões que nos faziam cair nas mais abjetas masmorras, um aroma nauseabundo que criava ardor nos olhos e nariz.

Foram dias e dias de ponderação e também criaram uma espécie de exército com cavaleiros que 
lutavam pela segurança dos mágicos. Homens valentes e destemidos, montados nos seus cavalos lusitanos, de grande porte, que numa madrugada, saíram devagarinho e silenciosos até ao Castelo, foram com disfarces para não serem reconhecidos. A Fada Branca e Pedro foram também nesse exército, mas vestidos de forma civil, com cores mortiças, para se misturarem com a Floresta Negra.
Pedro sussurrava à Fada: “ Fada, será que vamos conseguir resgatar o Hugo?”
A Fada disse, no seu tom baixo e adocicado, quase acariciando as palavras, “ Vamos tentar. Esta vai ser a última investida contra a maldição deste Castelo. Hoje acaba tudo.”
Finalmente chegaram aos portões do Castelo Negro, escuridão, som de berros e risos assustadores e aromas nauseabundos completavam um cocktail explosivo que rebentava na alma aparentemente destemida mas frágil como barro dos leais soldados e mágicos da comitiva.

Depressa tentaram entrar pelas traseiras do Castelo, sorrateiros, sem fazer barulho, foram entrando, ludibriando os guardas sanguinários, foram trepando, esmagados pelo barulho ensurdecedor vindo do interior das muralhas, os nervos tornaram-se de aço para que a força fosse de ferro, não podiam falhar!

Ao conseguirem penetrar na ala prisional do castelo, onde se encontrava Hugo, amarrado de mãos e pés, amordaçado e a compartilhar cela com aberrações e monstros, tentaram forçar a fechadura da cela, com pés de cabra e pontapés, mas devido à podridão, foi fácil arrombarem a entrada e soltarem Hugo.

Hugo só dizia: “ Obrigado por que tirarem deste inferno. Agora temos de matar o bruxo para acabar com a maldição”

A Fada Branca, Pedro e Hugo e alguns soldados correram desenfreadamente para a sala principal, 
dizimando a guarda que lhes aparecia pela frente, imbuídos num espírito de missão para acabar com esta maldição milenar que assombrava a Floresta e todos aqueles que nela habitavam.
Mal chegaram à sala principal, o Bruxo já criava feitiços para dizimar tudo e todos, num gesto de horripilante maldade, na sua bola de cristal, mas um raio de luz branca que emanava do cetro da Fada toldou-lhe a visão e quebrou o feitiço, Pedro num ato de loucura espetou uma adaga nas costas do bruxo, atingindo-lhe o pulmão esquerdo, onde o Bruxo tinha seu ponto fraco, dado que tinha sido esventrado há 100 anos atrás por um soldado do bem.

Esta adaga tinha sido purificada e revestida por uma magia benigna, criada na bondade e na lealdade que bombeava a alma da Fada, a cada irrigação transportada até ao seu coração. Um clarão duma luz, que de tão branca que era, ofuscava a retina de todos e abafou toda aquela homicida poluição kármica que infestava os corredores do Castelo Negro.  A Floresta Negra despiu-se do xaile negro que a cobria há milénios e tornou-se um paraíso, onde flores luxuriantes cresciam harmoniosamente, desabrochando lindas pétalas, rosadas e viçosas, a natureza exibia-se na sua plenitude depois de eras infindáveis de contraciclo permanente.

A Fada Branca levou Hugo e Pedro a verem os unicórnios, fadas, lagos cristalinos, montanhas azuis e brancas, puras como água, os dois meninos, sorriam, como sorri alguém que cumpre um sonho. 
Hugo dizia, maravilhado: “ Nossa! Isto é tão especial, tão limpo, tão calmo. Fantástico.”
Pedro retorquia, “ Assombroso… fogo!”
Então a Fada Branca fez-lhes uma proposta,

“ Meninos, como já entraram neste nosso mundo encantado, queria propor-vos ficarem aqui a defender o reino da Fantasia, das ameaças malignas! Querem ficar ou voltar para o vosso lar, junto dos vossos, para o VOSSO mundo?”

Hugo e Pedro ficaram perplexos…

Não estavam a espera de tal coisa. Dois miúdos, de origens pobres, os pais eram camponeses, trabalhavam a terra para dela colherem legumes, futres, leite, cereais, para vender e para consumo caseiro, de repente, estavam ali, com a hipótese de viver num mundo que tanto tem de fantástico e especial como de fantasmagórico e negro! Pensaram, debateram um com o outro, balançaram prós e contras e por fim, passado 3 dias de pura reflexão, chegaram a uma certeza.

“Fada! Já temos uma resposta para lhe dar”, afirmou Hugo.

“Qual?” Respondeu a Fada!

“Queremos ficar, mas com um pedido apenas…” falou Pedro.

“Pedido? Estranho, mas sim podem pedir” Falou a Fada, fitando os 2 petizes.

“Queremos aprender magia! Aprender a fazer alquimia, feitiços, curar doenças de pessoas, todas essas coisas que os magos que conhecemos fazem”

A Fada Branca, chorava de orgulho, aqueles dois meninos que ela tinha salvado e aconselhado queriam entrar no mundo da tão terna e magnífica magia!  Aceitou e ensinou-lhe tudo o que sabia. 
Foram anos e anos de aprendizagem, experiências e troca de conhecimentos. Quando se vive um sonho, os olhos brilham com outra intensidade, sorriso rasga de ponta a ponta, tudo parece mais garrido, mais forte, firme, real e puro.

Hoje, estes 2 meninos, são homens, vividos, de 50 anos cada, mágicos de renome. Combatem os demónios que tendem a petrificar a harmonia que impera no reino. Açambarcados pela eloquência quase poética de cada luta, de cada guerra, de cada momento mágico que sai da ponta duma varinha de condão.

Qual será o seu futuro? Como pobre e simples contador de histórias, não posso precisar, mas que o sonho continuará a afoga-los neste tsunami de paixão por aquilo que acreditam, isso caros leitores, não tenham dúvidas.

A todos uma boa noite,

Durma bem,

Diretamente,

Do Mundo da Fantasia…


quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Caminhos perdidos

6 Da manha num inverno bafejado por um frio siberiano,
Os lagos de Kiev totalmente cobertos por uma película grossa de gelo
Conferiam uma roupagem de mistério e galanteio a quem lá passeava.
Isis, uma jovem ruiva, de olhos acastanhados e grandes como montras de romantismo,
De um corpo magro, nada curvilíneo mas de uma simetria inquietante,
Uma pele apimentada por um sem número de sardas que lhe conferia uma tez
Desigual a todas as outras. Isis tinha 18 anos, filha de pai ucraniano e natural de Kiev
(Capital da Ucrânia) e de mãe portuguesa, natural de Évora.
Seus pais conheceram-se quando o seu pai, chamado Mikhail, arriscou emigrar
Para Portugal, em busca de um futuro melhor e para fugir à miséria brutal
Que assolava o país de leste por aqueles anos.
Mikhail arranjou trabalho num supermercado em Évora, o supermercado
Era o Lidl, situado no centro da cidade e com grande afluência a nível de clientela.
Mikhail, sempre prestável e trabalhador foi conquistando os responsáveis e
Colegas de trabalho com o seu empenho, acabando por ficar de pedra e cal,
Garantindo um trabalho, um salário (que guardava para voltar um dia para a sua pátria natal)
E uma estabilidade que há muito não tinha.
Um certo dia, uma castiça rapariga deu entrada para trabalhar como operadora de caixa,
No supermercado, chama-se Sónia, de um cabelo ruivo apanhado por um totó,

Uns penetrantes e viciantes olhos azul-mar, tão profundos que faziam suspirar até
As pedras da calçada tal era o fascínio que insinuava com cada olhar que disparava como
Flechas de amor. Um corpo muito bem tratado, com uma pele sedosa como a mais fina
Seda teada por uma costureira de perícia inegável.
Dona de um sorriso belo e luminoso como o sol ao meio-dia, contagiante
E duma pureza de primeira água.
Sónia foi uma lufada de ar fresco na “vida” da Lidl,
Simpática, eficiente, solidária, Sónia reunia todas as condições
Para ficar longos anos a desempenhar esta função.
Mikhail logo se enfeitiçou pelos encantos tamanhos
Da jovem Eborense. Logo meteu conversa,
Um café aqui, um jantar ali, um cinema e um namoro
Fervorosamente assumido.
Namoram 5 anos, já viviam juntos num apartamento
Perto do posto de trabalho.

Quando já tinham um pé-de-meia sólido
E já com uma maquia interessante,
Mikhail propôs à sua amada a possibilidade
De ir com ele para a Ucrânia, leste da Europa.
Depois de muito pensar, repensar, ponderar
Por tudo na balança da consciência, passados alguns dias
Sónia decidiu ir com Mikhail. Uma aventura com tanto
De risco como de paixão terna e mágica.
Instalaram-se em Kiev, terra natal de Mikhail,
Com o dinheiro que traziam de Portugal, montaram
Uma livraria, para fornecer livros e material de escola
Como canetas, cadernos, marcadores, capas, manuais escolares
Entre tantos produtos no espólio escolar atual.
O negócio foi de vento em poupa, a livraria ganhou clientela,
Fama, movimento e o dinheiro entrava com muita frequência.
Depois de 2 anos de união no país que outrora fora da Ex União Soviética,
Nasceu Isis, fruto de muito amor e desejo de serem pais.
Isis foi subindo no ensino, primária, depois ensino básico, secundário
Até completar o secundário sempre com boas notas, numa regularidade
Tipicamente implícita no modo de estudo dos países de leste.
Numa manha, as 6 da manha, um frio brutal, menos 6 graus na rua,
 Dentro de casa a temperatura chegava aos 10 graus devido ao isolamento

E a meia-dúzia de aquecedores ligados logo mal o sol raiasse no céu ucraniano.
Isis acorda lá para as 8 da manha, sempre com o sorriso que herdou da sua mãe,
Pressentindo que algo estava para acontecer numa premonição que lhe acossava a alma
Como uma cócega do destino na banal vida de um simples mortal.
Mikhail, juntamente com Sónia, tinham preparado uma surpresa para a sua querida
Filha, uma viagem a três até Portugal, nomeadamente até Évora, cidade que por aquilo
Que os pais diziam, criou um entusiasmo tal no coração da jovem que a notícia da visita caiu
Como um mimo para quando estamos necessitados.
Isis pulava de alegria e mais pulou quando visitou as ruínas romanas
Monumento quase “obrigatório” de visitar aquando de estadia nesta cidade
Alentejana.

Os seus pais, aproveitaram o facto de estarem lá, para visitarem amigos que tinham ficado
Do local de trabalho, dos cafés que frequentavam entre outros hábitos.
Ao visitarem a casa de um casal amigo que trabalhava no Lidl na mesma altura que Mikhail e
Sónia,
Aproveitaram para apresentar Isis ao casal amigo, que ainda não a conheciam,
Mas este casal também já tinha um filho, O Martim, um miúdo de 18 anos também,
Olhos verdes, musculada, cabelo castanho, cara de reguila e muito, muito talento para a arte
Do engate.
Duas conversas com Isis e os iscos estavam lançados no coração tenro e sedento de paixão da jovem.
Troca de números de telemóvel, endereço de Facebook para comunicarem quando esta
Estivesse na gélida Ucrânia.

A visita a Portugal teve o seu término, Isis voltou para a sua terra, mas sempre com o bichinho
Chamado Martim a corroer-lhe o cérebro com poemas, longas conversas sobre musica,
Porque Isis derivado de ter mãe portuguesa dominava também a língua de Camões.
Falavam sobre música, cinema, amor, literatura, sonhos, metas pessoais, tudo
O que equaciona-se o seu futuro a médio-longo prazo.
Andaram nisto durante 6 meses/1 ano, até morada Isis já tinha dado a Martim para uma
Futura visita a sua casa.
Martim preparou tudo com o aval dos seus pais, para fazer uma surpresa a Isis,
Juntou dinheiro com o part-time que arranjou nas férias, a servir num café da zona.
No dia do Voo, foi de comboio até Lisboa, voando depois para a Ucrânia, ao pisar solo
Ucraniano, em Kiev, ligou logo a Isis dizendo que estava no aeroporto, que ironicamente
Ficava a 1 quilómetro de casa da jovem.
Isis gelou!

Nunca pensou que Martim fosse capaz de fazer algo desta magnitude só para a ver.
Apressou-se a ir busca-lo ao aeroporto, nunca os seus passos tinha tido um ritmo
Tão elevado.
Ao ver Martim sentado num muro, atolado em bagagem e um cansaço evidente
Desenhado na pálida face do jovem, abraçou-o com todo o carinho
Que durante anos tinha absorvido dos seus pais.
Chamou o táxi que a deixara lá para os levar para casa
Ao chegarem a casa, Martim foi muito recebido por Mikhail e Sónia.
Ficou duas semanas.

Mas, uma amizade já de si intensa, transformou-se num amor inevitável

E arrepiante e estupidamente intenso.
Tão intenso que no fim das duas semanas, Martim mudou de ideias
E já não tinha como meta voltar a Évora.
A ligação a Isis prendia-o como uma algema forjada numa fornalha do amor.
Mikhail e Sónia, assustados, ligaram para os pais de Martim, explicando a situação
E tentando apurar o que se iria fazer para gerir da melhor maneira esta paixão
Arrebatadora emergida dos confins do sentimento humano.

Os pais de Martim, como tinha uma abastada vida para poder suportar esta loucura
Do filho, mandaram dinheiro para ajudar à sua estadia na capital ucraniana.
Ficou mais duas semanas, um mês, 6 meses, 1 ano.
Já sem depender dos pais, arranjou trabalho na livraria dos “sogros”
Enquanto Isis cursava comunicação social numa faculdade situada mesmo
No coração da cidade.

Mas as coisas começaram a descarrilar para Martim,
Ao dominar a língua, juntou-se a um grupo de rapazes
Que tomavam uma vida mais de saídas a noite,
Bebedeiras e drogas.

De início era só uma coisa soft,
Mas no deslindar da situação na sua total forma
Isis ficou chocada.
Martim já roubara duas vezes a livraria em quantias
Avultadas para suportar a sua vida leviana.
Mikhail pô-lo fora da livraria e de casa.
Passaram 6 meses sem Mikhail, Sónia, Isis e até os pais
De Martim sem novidades do jovem que se revelara uma
Tremenda desilusão para todos.
Isis entretanto estava prestes a terminar a formação,
Estando agora no mestrado em jornalismo criminal,

Na mesma faculdade e ao passar por uma rua,
Escura, estreita e onde corria um bafio a vinho e podre
Que lhe conferia um aspecto medonho, mas que Isis tinha que atravessar
Para chegar a escola, Isis viu um corpo inerte no chão, espumando da boca
Com a roupa rota, calçadas tingidas com pingas de sangue, 
Ao ver o cabelo castanho e os seus olhos verdes, apercebeu-se num arrepio

Quase sádico que se tratava de Martin.
Tentou chamá-lo, acordá-lo, sacar dele algum sinal vital mas em vão!
Isis ao virá-lo, reparou num saco com pó branco, (cocaína)
E um papel sem linhas com um poema escrito por si em jeito de despedida.
Isis limpou as lágrimas, que lhe corriam de forma sagaz pela cara,
E tentou ler o poema que dizia:

“ Ao meu amor que tanto amo
 Estes versos eu declamo
Com carinho e muita culpa
De toda esta cúpula
Sangrenta e viciante
Alucinante e estonteante.
Se quando leres isto, já me
Tiver ido,
Recorda aquilo que para ti fui,
E não aquilo que poderia ter sido.”

Isis chamou a ambulância,
Chamou os pais,
Para serem informados da desgraça
E informaram os pais de Martim,
Que logo se descolaram de avião para a Ucrânia
Ainda chocados, atordoados pela notícia
Como se tivessem atingidos por um dardo
Cheio de uma notícia escabrosa.
No hospital quando foi declarado o óbito
Um homem branco, anorético quase, calvo,
De roupa suja com tinta e uma camisola caiada
Com cal, de brincos dourados, aspeto ideal para um
Toxicodepente.
Este levava uma foto de Isis e ao reconhecer a bela
Jovem abordou-a com uma diminuta simpatia
Apenas para lhe dizer:
“Isis?”
Ao que a jovem respondeu:
“Sim, sou eu, quem é o senhor?”

Ao que ripostou o homem:

“Chamo-me Atem, sou moldavo,
E nos últimos 4 meses, fui companheiro
De muitas asneiras, drogas, roubos, tráfico
Do Martim. Ele já sofria do fígado há muito
Tempo e nos últimos dias, pediu-me para te dizer
Que te amava e dar-te isto”…
“Isto” era um punhado de folhas sarrabiscadas pela
Caligrafia torta e talentosa do jovem alentejano.
Atem pediu a Isis, para passar isto para computador
E publicar estes trechos, cumprindo o derradeiro
Desejo de Martim.
I
sis balbuciando palavras imbuídas numa emoção
Que trespassava o coração e só se soltava em forma
De um choro copioso que exteriorizava tal dor.
Passados 2 meses, os textos foram lançados em forma de pequeno diário
Isis orgulhosa do seu menino que mesmo depois de perder a vida nas ruelas
Visceral da droga e do crime ainda foi capaz de se entregar de corpo e alma
Aos seus 2 amores: A poesia e Isis.
O livro foi comercializado na livraria de Mikhail sendo um sucesso
E uma lição de vida para muitos que o leram.
Isis, era uma jornalista de prestígio que trabalhava numa cadeia
De televisão ucraniana com sede na capital.
Mas com sucesso e fama, nunca esqueceu a sua
Grande paixão, o seu menino, Martim.

O amor ultrapassa todas as barreiras, físicas, mentais
E sociais. Mesmo distantes pela barragem da droga,
A poesia juntou-os novamente.
Martim e Isis, o amor que vivia na paixão

Louca de um poema!

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Amor é um lugar estranho.






"Olá Luísa"

Foi a frase que consegui expelir das minhas cordas vocais, quando te conheci, naquele fim de verão em 2001, no meu oitavo ano, na Escola Secundária Padre João Ferreira. Eras linda. Com essa pele suave e branca como neve, mas com aquele jeito de menina malandra, com um sorriso maroto, um olhar que fixa, um cabelo castanho-escuro, fino como linho e uma conversa meiga, calma, que fluía ao sabor duma brisa veraneante, e que seduzia quem a ouvia. Lembro-me que conversávamos muito. Eramos muito próximos. Nos intervalos falava-mos de vários assuntos. Mergulhados naquela inocência que nos atraía sem que nos apercebesse-mos. Cada palavra tua encaixava de forma perfeita nesse teu ritmo eloquente de as interpretar.

“Rui, gosto muito de conversar contigo, de estar contigo”

“Eu também Luísa. És uma miúda muito bonita, simpática e divertida”.

Fomos crescendo. A ligação foi passando por altos e baixos, a magia foi-se diluindo em algo estável, maduro, com laços fortificados pelo que íamos passando. Foi assim até aos 18. Aí chegamos aquela fronteira. Faculdade, dois destinos diferentes, ela para Aveiro, cidade à beira-mar, bafejava pela brisa marítima que ergue os desejos mais profanos. Ele para Lisboa, cidade capital, cosmopolita, agitação, confusão, espectáculo, projectos, conceitos diferentes, quilómetros que nos separavam.

“ Podemos estar um com outro ao fim-de semana. E de vez em quando ou eu vou a Lisboa ou tu vens a Aveiro”

“Ok fica combinado amor”

Mas a inquietude da líbido humana desvirtua tudo o que parece imutável. Muda-se de cenário, de contexto, conhecesse algo que para nós era segredo, um segredo guardado na casa de Baco, com um bom vinho, raparigas e rapazes diferentes daquele mundo em que estávamos desde embriões inseridos. Tentamos aguentar o namoro até ao máximo, com crises, choros, promessas feitas em vão, num vão de escada qualquer, repleto de lágrimas, 2 ou 3 gramas de álcool em cada litro fervente de sangue, mentiras construídas para tentar aguentar este prédio devoluto que era o nosso amor.

Decidimos deixar de mentir a nós mesmos. Cada um para seu lado. Centenas de quilómetros de distância, criamos raízes em Aveiro e em Lisboa, redigimos cada um a sua história, num novo caderno branco, de linhas agora firmes e rectilíneas, onde o amor soava a verdade, com uma nova roupagem, uma nova forma de soar, que nos fazia suar, sorrir, viajar e viver, porque era isso que nós queríamos, era viver.

E se nos voltaremos a ver? Não sei. Minha gente, não sei. Se um dia nos cruzarmos, nos transbordo, e se os nossos olhares se tocassem, será que a paixão que parece estar perdida nas efemérides do destino, se acenderia de volta e nos traria novamente para perto um do outro? Também não sei. Não tento adivinhar os golpes de algo tão profundo e inesperado como o destino.
Um dia. Talvez um dia. Possamos contar aos nossos filhos como nos reencontramos um dia.




quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Andreia e o destino!






A explosão foi violentíssima, labaredas horrorosas pintavam de um amarelo furioso e ladrão o horizonte que se esfumava nas chamas como uma linha ténue entre o que sobrou e aquilo que foi fustigado como pó pelo fogo hediondo que deflagrava. Andreia, acordou sobressaltada, pelo barulho das ambulâncias, bombeiros, polícia, pessoas a berrar, alarmes a tocar, uma sinfonia quase bélica para quem acorda às 7h00 da manhã, depois de 8 horas de trabalho num supermercado na zona. Era sábado, mas pouco interessava o dia para aquelas afogueadas pessoas que corriam tresloucadas, assustadas e temerárias que um ente seu tivesse desaparecido naquela selva de fumo, calor e destruição que coloria a loja afetada. Andreia, após tomar o seu banho diário, vestir as suas leggins pretas, o seu top branco, casaco igualmente de um preto assumidamente a prever um luto futuro na face desta bela jovem de olhos azulados, cabelo de um castanho tão ténue que soava a mítico, um corpo torneado, resultado de um exercício intenso e diário, desceu no elevador, do seu apartamento T1 situado no 4º andar de um prédio (quase) devoluto que conseguir comprar, a muito custo, com o dinheiro que arrecadava do parco salário do supermercado, para presenciar o reboliço que sem respeito a retirou do sono, com uma brutalidade romana quase. Andreia gelou ao ver o pânico encrostado nos olhos e na face de quase todos os que estavam presentes.  Mas pergunta vocês o que sucedeu afinal? Sucedeu um curto-circuito no quadro elétrico da loja de conveniência do quarteirão, a “Lojinha da Zulmira” foi totalmente arrasada por uma desgraça que vitimou a Dona Zulmira e também três outros clientes que lá se encontravam. Andreia ainda combalida da má notícia, lembrou-se que o seu namorado que dormira junto dela naquela noite, tinha deixado um bilhete a dizer, “Amor, saí mais cedo porque fui buscar leite, ovos, pão e água à Dona Zulmira, já volto”. Andreia bloqueou, a perceção de que, Tiago (nome do jovem), poderia ter falecido na sequência do desastre. Tentou, louca, saber se o seu amor tinha sido um dos mortos, falou com bombeiros, médicos, mas os nervos entorpeciam as palavras e a comunicação foi-se toldando, precipitando-a a correr para os hospitais mais próximos, tentando ao mesmo tempo, encontrar uma frieza quase hercúlea para raciocinar e tentar construir um discurso minimamente coerente para poder saber algo do seu Tiago. O telemóvel permanecia incontactável, num silêncio sepulcral que perpetuava em si as vagas esperanças da angustiada Andreia. Ao dobrar a esquina para a avenida que a levava ao hospital central da cidade, o telemóvel de Andreia toca, do hospital, do outro lado uma voz grave, cuidadosa em cada palavra dita para dizer a horrenda novidade à amada de Tiago, conta de uma forma quase embriagada pela tristeza que o consumia, que Tiago não conseguiu resistir aos gravosos ferimentos infligidos pela queda de um armário em cima do tórax, fraturando a caixa torácica, perfurando os pulmões, acabando por falecer às 10 da manha. O médico disse a Andreia que Tiago lhe pediu, em jeito de último pedido antes de desaparecer do mundo dos vivos, que liga-se a Andreia a dar a notícia, era a única pessoa que amava de verdade. Andreia desligou a chamada e caiu. Na esquina, sentou-se e um surto de choro invadiu a sua alma como se fosse uma coceira no espírito que a incomoda-se de segundo a segundo e lhe trouxesse à memória todo o carinho, amor, amizade, companheirismo, sorriso de menino despreocupado com a vida que Tiago lhe oferecia em doses acima da média normal. Tiago era um garoto de 23 anos, mais novo 4 anos que Andreia que tinha 27. Tiago tinha acabado o curso em arquitetura, dono de um talento invulgar para o desenho, cedo começou a trabalhar o seu dom, desenhando milhares de obras, expostas pela cidade, em exposições que o próprio organizava. Conheceu Andreia numa dessas galearias que expunham os trabalhos do jovem pródigo, amor à primeira vista, numa empatia quase digna de ser descrita por um qualquer romancista apaixonado pela sua musa. A ligação fortificou-se e durou até à aquele dia, nuns 7 anos de namoro que pareciam eternos, até a foice da morte ter sido cruel o suficiente para estender a sua lâmina à vida deste pobre rapaz. Andreia enlutou, durante meses e meses. Pálida, fraca, de expressão triste e agoniada quando a saudade batia como um soco de um pugilista no peito desta humilde mulher, desnutrida porque a comida trazia-lhe um sabor amargo que lhe retirava o brilho. Um cadáver ambulante tomara conta do outrora esbelto, (como já foi supracitado) torneado, firme e de uma beleza que fazia girar muitas cabeças masculinas ao passar nas ruas. As suas colegas de trabalho tentavam aconselhá-la a devagar voltar à entusiasmante Andreia que meses antes criava frisson quando aparecia com a sua diminuta minissaia a trazer à baila as suas galopantes e excitantes pernas que traçavam uma rota muito definido, o caminho da felicidade. A recuperação foi acontecendo devagar, um processo gradual e que contou com a ajuda da sua amiga Jéssica que durante as horas de vil sofrimento a que foi votada, a apoiou, com uma força monstruosa e duma alegria de viver que voltava a contagiar Andreia. Andreia no meio de tanto destroço, encontrou uma luz, brilhante como um cristal puro a entoar o seu fascínio no alto duma montanha esbranquiçada pela neve. A escrita tinha tomado a sua alma como um vício que se propaga silencioso pelo organismo, como o gás que tinha vitimado o Tiago numa manha ensombrada pelo signo do demónio. Andreia escrevia veloz e decididamente como uma gazela corre pelas pradarias de Africa. Desmitificando dogmas, pondo em causa tabu, uma aguçada fonte crítica e criativa começava a desabrochar no âmago desta linda moça, como uma rosa nos primeiros raios de sol primaveril, primeiro tímida e amedrontada, mas depois com uma pujança e força de vontade totalmente extasiante. Quando já conseguia sorrir como dantes, Andreia já tinha material literário para lançar um livro. Utilizou os contactos que tinha estabelecido através da profissão artística do ex-namorado aquando da sua fase de maior fulgor criativo e consequentes apresentações das obras-primas. Acordou um contrato com uma editora das redondezas, o livro chamar-se-ia “ Rasgos Da Minha Consciência” e teria uma tiragem de 2000 livros. Foi organizado o lançamento do livro num centro cultural perto da residência de Andreia, centenas de convites entregues, toda a nata ligada à cultura convidada para tal evento. Chegado o dia, deu-se a apresentação do livro, uma breve declaração de Andreia, do editor e um fado interpretada pela Jéssica, ombro amigo de Andreia nas horas más. 2000 Livros vendidos na noite de lançamento, sucesso profundo, sorriso rasgado, de orelha a orelha na face da autora, parabéns a rodos param um livro que prometia uma leitura deliciosa e apaixonante. O reconhecimento veio com a rapidez de um trovão, mas com o sabor de um chocolate Suíço, a alma de Andreia estava renovada. Mas numa noite, o medo da solidão tomou conta de Andreia. Trémula, hesitante, assustada. Embrulhada nos lençóis da sua cama, Andreia pensava no trilho que tinha de percorrer, agora que toda a gente a conhecia, falar a toda a gente, sorrir, tirar uma foto, tudo! Tudo sem Tiago! Quase já soluçava de tanto chorar, um pombo batia com o bico na janela do apartamento de Andreia, de forma melódica, de tal forma compassada que entusiasmou a bela rapariga a abrir a janela para brincar com tão inusitado animal. Ao abrir a janela, viu que o pombo deixou cair do bico que criava o toque-toque um papel pequeno, quase como um papiro egípcio, que continha uma mensagem escrita a tinta e numa letra duma perfeição quase insultuosa para o comum mortal. Andreia abriu a mensagem e ao fazê-lo, o pombo abriu as asas brancas como cal e voou, voou até ao infinito, até se resumir a poeira brilhante como diamantes, ao estilo da mais fantástica fénix! Ao ler a mensagem, Andreia estremeceu, esqueleto remexeu como um terramoto dentro dos próprios ossos.  Dizia: “ Amor, nunca te abandonei, deixei-te fisicamente, mas continuo a velar pelo teu futuro, sentado à tua cabeceira quando choraste horas a fio, perdida no mar de piranhas e num jardim de cobras que foi a tua mente durante dias e dias. Sei que lançaste um livro, fico feliz por teres descoberto essa tua forma tão mágica de expressar a tua doce forma de ser, olhar, falar, tratar e tocar no próximo. Quando acabares de ler esta mensagem, uma estrela brilhará no céu. A nossa estrela, dona de uma luz tão única que a criei só para ti, como criei dezenas de desenhos, lembraste? Amo-te meu amor!” Ao acabar de ler a mensagem vinda do além, Andreia, embevecida pela surpresa do seu anjo da guarda, olhou o céu profundo uma ultima vez naquela densa noite. E no meio do breu, uma estrela cintilava de forma inexplicavelmente fogosa, Andreia beijou a mensagem, como se beija-se os lábios do seu grande amor, fechou a janela com a suavidade de quem acabou de ser amada duma forma pura e humilde, deitou-se na cama, confortável, mas ao fechar os olhos, um rasgo de luz tomou a sua janela, com uma frase lá redigida.
A frase era: “Nunca peças o mundo quando só precisas de mim. Dorme bem meu amor”
E Andreia dormiu, feliz, calma, amada e acompanhada pelo seu menino.
Rui Castro.

domingo, 30 de dezembro de 2012

O Velho Misterioso!




O Velho Misterioso!
Numa escadaria escura e sombria, abria-se uma porta torta que fazia um ranger assustador como morrer numa forca. Eu subia essa escada, assustado e de sangue gelado nestes tubos de ensaio que são as minhas veias, degrau a degrau vou ficando cada vez mais próximo da entrada de um mundo desconhecido onde a surpresa mora atrás de cada esquina. A minha sina é ser perseguido por demónios alucinantes, lancinantes dores interiores que me perfuram a caixa torácica. A porta aberta vai deixando antever um brilho de um branco espesso e apático quase como uma prisão de solidão e marasmo que adormece o espirito e aprisiona-o numa cela de inércia. De dentro deste paraíso sádico entoa uma voz cavernosa, obscura e rouca como se o diabo fosse um ser provido de aparelho vocal. Essa voz disparava palavras de ordem contra a minha pessoa, como se de um atentado verbal anárquico de um qualquer protestante sem rosto mascarado por uma imensa aura branca se tratasse, e eu, aturdido numa dor sórdida, ia completando a curva ascendente, iluminado por candelabros acesos com fogo e azeite, as paredes revestidas de um já musgoso papel de parede com inscrições em hebraico e imagens de seres da fantasia da idade média. Pé ante pé, finalmente alcança o cimo da célebre escadaria, uma luz ofuscante tolda-me a visão, como uma espetacularidade assombrosa que parecia o prefácio para a poesia sobre-humana que se iria abater sobre o meu cabisbaixo momentos depois. Reabro os olhos, timidamente, ainda meio cego de tanta luz, caminhei perdido, sem direção num rumo desconcertado, os meus pé guiam-se numa autonomia quase bíblica, durante minutos pareço um comboio desgovernado à beira do descarrilamento abrupto, mas num repente avisto ao fundo, sentado num trono ornamentado por ouro e prata, numa luxúria quase insultuosa num deboche gritante, um homem velho, desgastado pela efeméride que faz questão de o atraiçoar a cada passo dado em falso. Na sua voz mórbida vocifera frases cheias de acidez e lascas para incendiar qualquer alma. Mantenho-me firme na minha aparente acalmia e pergunto-lhe o que pretende de mim para me enviar tão insólito convite. 30 Segundos passaram, numa contagem decrescente num ritmo vertiginoso, até que o velho se manifesta com sua deliberação sobre a minha questão, diz ele que escolheu-me para fazer parte de um movimento que vai revitalizar o mundo, num rasgar de horizontes sem paralelo, para queimar de vez os dogmas que bloqueiam a engrenagem que faz evoluir o planeta. Seria o seu porta-voz no que seria o novo acordar do gigante adormecido que é o homem enquanto peça-chave do xadrez que pode devolver à população a pureza que ela perdeu com o degredo da mente. Penso e repenso na proposta, ponderação profunda como introspeção. Quando por fim alicerço uma resposta convicta, dirijo-me ao velho e digo-lhe que aceito ser a voz da mudança, o porta-estandarte da nova geração que vai revolucionar o mundo tal como o conhecemos. Velho sorri, seus olhos brilham como esmeraldas, o seu verde vivo impulsiona lhe o viver. Então ele diz que tenho que espalhar a sua palavra em forma de escrita e que me abençoou com esse dom no momento em penetrei no seu templo. Olhamo-nos de frente durante 5 longos minutos, fundo como uma raposa visa a sua presa e após esses momentos de concentração e leitura mental, pergunto-lhe o seu nome, curioso para deslindar quem seria aquele homem com ar de deus grego que me convidava a ser seu seguidor e porta-voz. Ele, com a certeza e forma de que se formam os génios, diz: “ eu meu caro discípulo? Eu sou quem te guia, quem te diz o certo e o errado e quem quer que tu espalhes essa mensagem ao mundo, eu sou aquilo e quem te conhecer melhor, sou a tua consciência”…

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Prostituta





Isto é uma história entre um milionário e uma prostituta
Pobre mulher que vende o corpo numa rua devoluta
Noites demoníacas passadas ao frio gélido duma nortada
Assombrada pelo peso de sustentar uma criança a seu cargo
Que gerou no seu ventre durante 9 meses numa gravidez súbita
E sem ser planeado, o pai fugiu como um cometa no céu cinzento
Deixando a indefesa menina á merce das feras sanguinárias das vielas
O milionário passava na paragem todos os dias, no seu Porsche Pana mera
À espera de despertar a líbido numa das “meninas” que se passeavam
Num instante! Vê a mais bela, mais jovem, de seios firmes, pele pura
Lábios carnudos e pintados dum batom vermelho garrido, brilhante e
Intenso, cabelo loiro natural, preso por um totó, saltos altos pretos
Contrastando com o vestindo tenuemente transparente, que conferia
Uma sensualidade elegantíssima como uma manequim que desfila focado
Numa luz da ribalta. Baixa o vidro fumado do carro, tira o charuto Cubano da
Boca e com um discurso de galã, envenenado por uma lábia afiada como granito
E um jeito de moleque fresco como seda. Raquel, (nome da prostituta), chamou
À atenção do ricaço, fez-lhe o sinal habitual para Raquel se abeirar do carro, para um
Diálogo mais privado, acalorado por um dom quase antológico deste homem afogado
Em notas. Conversa tida, acordo feito, Raquel entra no Porsche, tímida,
Nervosa e assustada.
Acabaram num hotel 5 estrelas, direito a jacuzzi, champagne Don Perignon, 
Morangos, música ambiente, trechos de Mozart, beijos, carícias, para o milionário
Era prazer, pornografia ao vivo, deboche ou desbunda, para Raquel, era trabalho,
Sacrilégio e uma cruz pesada de carregar. Mas…
Os encontros tornaram-se frequentes, cada vez mais apaixonados, o amor envolveu-os
Numa bolha de loucura, paixão e intensidade, dois corpos em ebulição, combustão espontânea de tesão, excitação ou desejo carnal.
Sem pagamento, tempo contado ou outros limites na consumação do amor que os unia já
Numa quase cavernosa relação de luxo, sem acompanhantes ou homens de negócios engravatados. Decidido a mudar a vida de Raquel, o Milionário, comprou casa, para si, Raquel
E a sua filha, Matilde, onde iriam viver tranquilos, enterrando numa sepultura escura e fria
O passado descomunal, aterrador para qualquer elemento do sexo feminino, pondo em causa a sua integridade corporal, espiritual e moral.
Mas.
O seu chulo, que só agora aparece, num rasgo de ironia e uma sádica e no limiar da psicopatia,
Soube da desistência da sua “colaboradora”, enfurecido, tratou de saber através da sua lista interminável de contactos obscuros que Raquel vivia agora numa moradia, com um senhor de alta casta da sociedade,
Foi lá a casa, intimidá-la, para que volta-se para o seu infernal ofício, malefício para alma
De arma de 9 milímetros, 6 balas, instala o pânico na mansão, Matilde chorava assustada, Raquel vociferava palavras de calma para que ele saísse de sua casa,
Balas foram disparadas para as paredes, ornamentos, mas nenhuma feriu mãe e filha.
O milionário soube disto e mandatou matar o chulo, uma equipa de seguranças paga por si para casos especiais.
Passados dez anos!
Matilde era uma aluna de referência no ensino secundário, Raquel uma escritora de sucesso
Com 4 livros publicados, uma das quais uma autobiografia, mas o Milionário era vítima dum
Terrível celeuma, um sarcástico linfoma foi viral no corpo deste ainda jovem rapaz, fazendo dele uma sombra, um esqueleto, uma caveira mal decalcada da sua face jovial de outrora.
No dia 27 de Maio, no hospital São João de Deus em Vila Nova de Famalicão, o milionário sucumbiu ao linfoma que lhe varreu as defesas do organismo. Passado um mês, Raquel edita o
Seu 5º livro, chamado “As Ruas do Luxo”, no auditório da universidade onde o Milionário estudou durante 3 anos, cursando criminologia.
Dedicou o livro ao seu companheiro dos últimos 10 anos, que escreveu o prefácio do livro
E no discurso final do lançamento, Raquel embevecida pela emoção, disso estas mágicas palavras
“ Ele (..) foi a única pessoa que acreditou em mim enquanto me vendia na rua, entregue a um atroz futuro vão como a mais esbatida cor numa parede de cal. A sua doença enviou-o para longe de nós fisicamente, mas a sua alma perdurará na minha mente e do meu coração e do da Matilde, com todo o respeito e saudade que te tenho, adoro-te meu menino.”
Esta história ensina-nos a respeitar quem nos ajuda durante a nossa vida, nos bons e maus momentos. Cada pessoa deixa a sua marca, há que saber respeitar e amar essa marca como se fosse parte de nós!
O Mundo está ligado entre si como um elo!

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Citrus






Numa era em que a evolução tinha conhecido um avanço exponencial, explosivo, uma erupção de tecnologia e informática, emergia uma figura ímpar, única e sem qualquer paralelismo. Alguém que reunia entre toda uma unanimidade quase universal, ultrapassando as barreiras da desconfiança e sobranceria de toda aquela sociedade materialista, capitalista e homicida.  O seu nome era Wolfgang, filho de país alemães, mas nascido em Citrus, uma cidade construída debaixo de terra, para evitar a intensíssima exposição dos raios ultravioletas que romperam como seda a camada do ozono e agora sobreaquece a terra duma forma monstra. Citrus foi concebida em escritórios, laboratórios e no cérebro do maior génio que pisou o chão de Lastros, (cidade que por debaixo de si ostentava Citrus). Foram anos de evolução de Lastros mas quando começaram os incêndios e a fustigação de florestas, queda de prédios, árida paisagem engoliu Lastros tal e qual um glutão. Esse génio era Urbano, um cientista Mega Céfalo, com um Q.I assustador, atingindo um pico e amplitude de pensamento completamente astrológico. Durante 30 anos reuniu à sua volta centenas de construtores, engenheiros, pintores, carpinteiros, eletricistas, mineiros, informáticos entre outros, munindo-os com tecnologia de ponta, duma qualidade assombrosa, com o intuito de fazer erguer uma cidade subterrânea, com total autonomia, atingindo um patamar quase surreal da coexistência entre homens e máquinas. Foram décadas de labor intenso, muito suor e noites perdidas a calcular centímetro a centímetro para que tudo seja feito dentro do maior rigor a que o ser humano pode ser sujeito. Wolfgang era o braço-direito de Urbano, dono duma mente avançadíssima para a idade, 27 anos apenas, voz ativa da revolução em marcha no subsolo rico em minério que era usado para criar geradores de energia para iluminar a cidade, criando um jogo de luzes que emprestava uma tonalidade por vezes suave outras vezes aguerrida à urbe e todo o seu esplendor. Com a cidade no ponto-rebuçado, a satisfação de Urbano e Wolfgang era notória, um esgar de sorrisos e felicidade rasgava a face destes dois iluminados. Mas como tudo, nada é um mar de rosas, um vírus instalou-se na cidade, fruto de combinações genéticas aberrantes por parte de um louco cientista renegado por toda a população de Citrus, antigo membro de um movimento ativista neonazi alojado nos confins de Citrus, na sua parte já degradada devido à destruição feito pelas vítimas desta bactéria assustadoramente eficaz e resistente. Este mago do terror dava-se pelo nome de Potros, nome com ascendência grega mas que intitulava um dos maiores cancros da história da humanidade moderna. O vírus penetrava de modo intravenoso na corrente sanguínea do homem ou mulher, operando-lhes mutações físicas e mentais, transformando o seu intelecto num antro de podridão, violência e carnificina. Mortos-vivos começaram a deambular pela cidade, ávidos de sangue como vampiros da idade média, esfomeados de mortandade, foram estropiando corpos em série, tornando Citrus num matadouro privado. A dupla maravilha Wolfgang-Urbano ao tomar conhecimento do sucedido decidiu criar um ciborgue dotado de uma força brutal e duma inteligência sobre-humana aliada a uma agilidade duma chita para combater tal praga de moribundos a navegar sórdidos pela “cidade-perfeita”. Usando um jovem de 16 anos como cobaia foram-lhe administrados componentes de aço no corpo através de implantes e injeções, tornando o seu corpo robusto, sólido como uma rocha, também lhe foi transmitido um treino dado por um especialista em destreza motora, para aumentar a fluidez dos gestos e a rapidez com que os executara. O ciborgue permanecia durante a noite escondido numa cama com um líquido amniótico para o alimentar e lhe conferir mais defesas tal como as mães fazem com os bebés na placenta durante a gravidez. Foram 7 meses de suplício em Citrus, tal a angústia que se vivia perante o holocausto de mortes e terror que na tela quase utópica que este centro de evolução tomava o lugar dum vermelho aterrador, tal era a quantidade de sangue jogado nas ruas. Passado este hiato de ação de Urbano e Wolfgang o seu antídoto ao vírus de Potros que se esgueirava pela cidade como uma serpente que se move quase num deboche sensualmente assassino nos esgotos da cidade entrando por via oral no organismo, quando os habitantes ingeriam água respiravam. Mas a máquina tava afinada, preparada como um frio matador concebido com um único objetivo: Acabar com Potros, acabar com o vírus e todos os infetados. O ciborgue chama-se C7 e foi lançado nas ruas de Citrus para aniquilar o zombies que mergulhavam a cidade num leito de uma babilónia mórbida, começando a executar sem dó nem piedade, limpando a cidade duma maneira velocíssima, com uma mestria só ao alcance dos predestinados.  Só restava um único e derradeiro objetivo: Eliminar o vírus pai de toda esta revolução genética. Calcorreou quilómetros em cima de quilómetros para chegar à cave laboratorial do doutor Potros, edificada num vale rodeado de cordilheiras ensombradas pelas suas aberrações. Foram 3 dias de busca incessante até que finalmente encontrou o refúgio do terrorífico inventor, entrando pelas traseiras, por dentro duma conduta de ar condicionado, subindo até á ventilação da sala principal, onde bombeava líquidos que alimentava um pequeno núcleo protegido por uma redoma de vidro que dava o ser ao vírus. Num gesto de frieza atirou com uma eficácia soviética para a redoma para quebrar a proliferação da infeção na cidade, mas ao tentar danificar o núcleo o alarme disparou e cinco seguranças apareceram munidos de metralhadoras de ultima geração, disparando a eito, tentando liquidar C7. A única coisa que C7 fez foi levar consigo a redoma com o núcleo, para ser analisado nos gabinetes de Wolfgang e Urbano, saindo ferido de um intensíssimo tiroteio com a segurança. Cambaleou noite e dia até à sede, sendo de seguida alvo de cuidados médicos e tecnológicos para voltar a coordenar e sincronizar as ligações simbióticas e analógicas do ciborgue. O núcleo tinha um tempo a contar até à sua explosão que emanaria um fluxo de veneno sobre a cidade apodrecendo-a e levando-a à destruição. O tempo fugia como areia dos dedos, como uma ampulheta que assustava o espírito com a sua retidão temporal e os dois cérebros não conseguiam deslindar qual a forma de desmantelar tal bomba. Depois de dois dias, faltavam 5 minutos para a bomba rebentar e na sala o suor pingava da testa dos dois crânios e os ritmos cardíacos aumentavam duma forma cavalgante, Potros juntara um exército de mortos-vivos para rodear a sede, montando uma vigília à porta para assistir de lugar cativo à queda do império Wolfgang. Mas! Num rasgo de loucura e insanidade quase hercúlea mas que parou a contagem decrescente, numa digitação de um código, recheada de sorte como uma lotaria, digitou as duas datas de nascimento, a sua e a de Urbano e ano em que se encontravam e quase miraculosamente funcionou, dilacerando o vírus e trazendo à vida os mortos-vivos e fazendo uma perseguição impiedosa, liderada por C7 ao cientista Potros, prendendo-o e fazendo confessar todos os crimes, sentenciando a sua pena de morte, fechando-o numa jaula com um tigre siberiano. As pessoas que estavam feridas pelo vírus, foram tratadas, integradas nos empregos, guiados de volta à sua vida normal fora da intempérie humana que assolou Citrus. Os anos passaram e Urbano já muito idoso, faleceu devido a um derrame no cérebro, ficando Wolfgang à frente dos destinos da cidade, com um olhar focado sobre qualquer outra maleita que poderia afetar a normal coexistência entre homens e máquinas. A evolução ajuda-nos a alcançar patamares incríveis mas também tem o seu reverso da medalha. Toda a atenção é pouca!
Em cada esquina está um perigo ao nosso sucesso, estejam atentos!