Dois rapazes oriundos duma aldeia
que vivia da agricultura e da criação de gado, um chamava-se Pedro e outro
chamava-se Hugo. Eram dois miúdos espevitados, alegres, entusiastas, com
vontade de descobrir o mundo que ouviam falar que possuía figuras mágicas e
fantasistas. Um dia caminhavam na Floresta Negra e diziam um para o outro
“Fogo Pedro, dizem tanto desta
Floresta e ainda não vi nada de transcendente “
… Resmungava Hugo desgostoso, mas
de repente uma clareira de luz extasiou as retinas do Hugo e
Pedro. Quando
conseguiram abriram os olhos ainda titubeantes, uma ave branca, esvoaçante, de
asas enormes e uns olhos esverdeados enormes, pairava por cima deles.
E uma fada montada em cima da ave gigante, com um cetro que
emanava um feixe poderosíssimo de luz pura, perguntava firme, o que faziam ali
2 jovens, perdidos, entregues aos caprichos negros da Floresta.
Pedro dizia: “ Viemos cá tentar perceber se é verdade que
existem monstros, dragões ou bruxos negros nesta tão densa floresta”
Hugo também dizia: “ Perdemo-nos nas horas, acha que devemos
ir para casa?”
A Fada branca respondeu:
“ Isto é uma terra amaldiçoada pelo Bruxo Negro! Criou
dragões furiosos, cobras esfomeadas e batedores que andam na Floresta a tentar
descobrir quem entra cá, para ser sacrificado em prol da maldade do Bruxo! Eu
vim em vosso socorro, do alto do meu céu, vi que 2 rapazinhos indefesos estavam
a entrar na Floresta Negra, sem estarem cientes dos perigos. Tive de Intervir e
agora vou-vos guiar de volta a casa”
Hugo e Pedro ficaram gelados, o medo entrou-lhes nas veias
de forma quase automática, como uma descarga de temor que os desligava da
realidade, fazendo-os entrar numa hipnose de paralisia e nervosismo. Num
repente, Hugo é levado por um dragão que apareceu tão rápido como flui o
pensamento humano, com as garras pegou em Hugo e levou-o para o Castelo da
Desgraça.
A Fada Branca e Pedro ficaram inertes e mal acordaram do
sucedido, já o pó assentara, a Fada pegou em Pedro e levou-o para o seu
refúgio, onde estavam também alguns sábios, anciães, mestres e mágicos do bem,
de magia branca, que refutavam a escuridão como o Diabo refuta a cruz. Ao
saberem do sucedido, todos começaram a elaborar planos de resgate do rapaz
entregue às garras malignas do sádico bruxo.
Mas tudo tinha quer ser feito com a maior calma, ponderação,
perspicácia e eficácia. Pedro estava maravilhado. Aquele mundo fantástico que
tanto tinha lido nos escritos do seu pai e que tanto o fizeram sonhar acordado,
finalmente era verdade, era real. Estudou-se muito a melhor maneira de entrar
no Castelo da Desgraça conhecido pelas suas armadilhas sangrentas, flechas
ardentes, alçapões que nos faziam cair nas mais abjetas masmorras, um aroma
nauseabundo que criava ardor nos olhos e nariz.
Foram dias e dias de ponderação e também criaram uma espécie
de exército com cavaleiros que
lutavam pela segurança dos mágicos. Homens
valentes e destemidos, montados nos seus cavalos lusitanos, de grande porte,
que numa madrugada, saíram devagarinho e silenciosos até ao Castelo, foram com
disfarces para não serem reconhecidos. A Fada Branca e Pedro foram também nesse
exército, mas vestidos de forma civil, com cores mortiças, para se misturarem
com a Floresta Negra.
Pedro sussurrava à Fada: “ Fada, será que vamos conseguir
resgatar o Hugo?”
A Fada disse, no seu tom baixo e adocicado, quase
acariciando as palavras, “ Vamos tentar. Esta vai ser a última investida contra
a maldição deste Castelo. Hoje acaba tudo.”
Finalmente chegaram aos portões do Castelo Negro, escuridão,
som de berros e risos assustadores e aromas nauseabundos completavam um
cocktail explosivo que rebentava na alma aparentemente destemida mas frágil
como barro dos leais soldados e mágicos da comitiva.
Depressa tentaram entrar pelas traseiras do Castelo,
sorrateiros, sem fazer barulho, foram entrando, ludibriando os guardas
sanguinários, foram trepando, esmagados pelo barulho ensurdecedor vindo do
interior das muralhas, os nervos tornaram-se de aço para que a força fosse de
ferro, não podiam falhar!
Ao conseguirem penetrar na ala prisional do castelo, onde se
encontrava Hugo, amarrado de mãos e pés, amordaçado e a compartilhar cela com
aberrações e monstros, tentaram forçar a fechadura da cela, com pés de cabra e
pontapés, mas devido à podridão, foi fácil arrombarem a entrada e soltarem
Hugo.
Hugo só dizia: “ Obrigado por que tirarem deste inferno.
Agora temos de matar o bruxo para acabar com a maldição”
A Fada Branca, Pedro e Hugo e alguns soldados correram
desenfreadamente para a sala principal,
dizimando a guarda que lhes aparecia
pela frente, imbuídos num espírito de missão para acabar com esta maldição
milenar que assombrava a Floresta e todos aqueles que nela habitavam.
Mal chegaram à sala principal, o Bruxo já criava feitiços
para dizimar tudo e todos, num gesto de horripilante maldade, na sua bola de
cristal, mas um raio de luz branca que emanava do cetro da Fada toldou-lhe a
visão e quebrou o feitiço, Pedro num ato de loucura espetou uma adaga nas
costas do bruxo, atingindo-lhe o pulmão esquerdo, onde o Bruxo tinha seu ponto
fraco, dado que tinha sido esventrado há 100 anos atrás por um soldado do bem.
Esta adaga tinha sido purificada e revestida por uma magia
benigna, criada na bondade e na lealdade que bombeava a alma da Fada, a cada
irrigação transportada até ao seu coração. Um clarão duma luz, que de tão
branca que era, ofuscava a retina de todos e abafou toda aquela homicida
poluição kármica que infestava os corredores do Castelo Negro. A Floresta Negra despiu-se do xaile negro que
a cobria há milénios e tornou-se um paraíso, onde flores luxuriantes cresciam
harmoniosamente, desabrochando lindas pétalas, rosadas e viçosas, a natureza
exibia-se na sua plenitude depois de eras infindáveis de contraciclo
permanente.
A Fada Branca levou Hugo e Pedro a verem os unicórnios,
fadas, lagos cristalinos, montanhas azuis e brancas, puras como água, os dois
meninos, sorriam, como sorri alguém que cumpre um sonho.
Hugo dizia, maravilhado: “ Nossa! Isto é tão especial, tão
limpo, tão calmo. Fantástico.”
Pedro retorquia, “ Assombroso… fogo!”
Então a Fada Branca fez-lhes uma proposta,
“ Meninos, como já entraram neste nosso mundo encantado,
queria propor-vos ficarem aqui a defender o reino da Fantasia, das ameaças
malignas! Querem ficar ou voltar para o vosso lar, junto dos vossos, para o
VOSSO mundo?”
Hugo e Pedro ficaram perplexos…
Não estavam a espera de tal coisa. Dois miúdos, de origens
pobres, os pais eram camponeses, trabalhavam a terra para dela colherem
legumes, futres, leite, cereais, para vender e para consumo caseiro, de
repente, estavam ali, com a hipótese de viver num mundo que tanto tem de
fantástico e especial como de fantasmagórico e negro! Pensaram, debateram um
com o outro, balançaram prós e contras e por fim, passado 3 dias de pura
reflexão, chegaram a uma certeza.
“Fada! Já temos uma resposta para lhe dar”, afirmou Hugo.
“Qual?” Respondeu a Fada!
“Queremos ficar, mas com um pedido apenas…” falou Pedro.
“Pedido? Estranho, mas sim podem pedir” Falou a Fada,
fitando os 2 petizes.
“Queremos aprender magia! Aprender a fazer alquimia,
feitiços, curar doenças de pessoas, todas essas coisas que os magos que
conhecemos fazem”
A Fada Branca, chorava de orgulho, aqueles dois meninos que
ela tinha salvado e aconselhado queriam entrar no mundo da tão terna e
magnífica magia! Aceitou e ensinou-lhe
tudo o que sabia.
Foram anos e anos de aprendizagem, experiências e troca de
conhecimentos. Quando se vive um sonho, os olhos brilham com outra intensidade,
sorriso rasga de ponta a ponta, tudo parece mais garrido, mais forte, firme,
real e puro.
Hoje, estes 2 meninos, são homens, vividos, de 50 anos cada,
mágicos de renome. Combatem os demónios que tendem a petrificar a harmonia que
impera no reino. Açambarcados pela eloquência quase poética de cada luta, de
cada guerra, de cada momento mágico que sai da ponta duma varinha de condão.
Qual será o seu futuro? Como pobre e simples contador de
histórias, não posso precisar, mas que o sonho continuará a afoga-los neste
tsunami de paixão por aquilo que acreditam, isso caros leitores, não tenham
dúvidas.
A todos uma boa noite,
Durma bem,
Diretamente,
Do Mundo da Fantasia…
Sem comentários:
Enviar um comentário