"Olá Luísa"
Foi a frase que consegui expelir das minhas cordas vocais,
quando te conheci, naquele fim de verão em 2001, no meu oitavo ano, na Escola
Secundária Padre João Ferreira. Eras linda. Com essa pele suave e branca como
neve, mas com aquele jeito de menina malandra, com um sorriso maroto, um olhar
que fixa, um cabelo castanho-escuro, fino como linho e uma conversa meiga,
calma, que fluía ao sabor duma brisa veraneante, e que seduzia quem a ouvia.
Lembro-me que conversávamos muito. Eramos muito próximos. Nos intervalos
falava-mos de vários assuntos. Mergulhados naquela inocência que nos atraía sem
que nos apercebesse-mos. Cada palavra tua encaixava de forma perfeita nesse teu
ritmo eloquente de as interpretar.
“Rui, gosto muito de conversar contigo, de estar contigo”
“Eu também Luísa. És uma miúda muito bonita, simpática e
divertida”.
Fomos crescendo. A ligação foi passando por altos e baixos,
a magia foi-se diluindo em algo estável, maduro, com laços fortificados pelo
que íamos passando. Foi assim até aos 18. Aí chegamos aquela fronteira.
Faculdade, dois destinos diferentes, ela para Aveiro, cidade à beira-mar,
bafejava pela brisa marítima que ergue os desejos mais profanos. Ele para
Lisboa, cidade capital, cosmopolita, agitação, confusão, espectáculo,
projectos, conceitos diferentes, quilómetros que nos separavam.
“ Podemos estar um com outro ao fim-de semana. E de vez em
quando ou eu vou a Lisboa ou tu vens a Aveiro”
“Ok fica combinado amor”
Mas a inquietude da líbido humana desvirtua tudo o que parece
imutável. Muda-se de cenário, de contexto, conhecesse algo que para nós era
segredo, um segredo guardado na casa de Baco, com um bom vinho, raparigas e
rapazes diferentes daquele mundo em que estávamos desde embriões inseridos.
Tentamos aguentar o namoro até ao máximo, com crises, choros, promessas feitas
em vão, num vão de escada qualquer, repleto de lágrimas, 2 ou 3 gramas de
álcool em cada litro fervente de sangue, mentiras construídas para tentar
aguentar este prédio devoluto que era o nosso amor.
Decidimos deixar de mentir a nós mesmos. Cada um para seu
lado. Centenas de quilómetros de distância, criamos raízes em Aveiro e em
Lisboa, redigimos cada um a sua história, num novo caderno branco, de linhas
agora firmes e rectilíneas, onde o amor soava a verdade, com uma nova roupagem,
uma nova forma de soar, que nos fazia suar, sorrir, viajar e viver, porque era
isso que nós queríamos, era viver.
E se nos voltaremos a ver? Não sei. Minha gente, não sei. Se
um dia nos cruzarmos, nos transbordo, e se os nossos olhares se tocassem, será
que a paixão que parece estar perdida nas efemérides do destino, se acenderia
de volta e nos traria novamente para perto um do outro? Também não sei. Não
tento adivinhar os golpes de algo tão profundo e inesperado como o destino.
Um dia. Talvez um dia. Possamos contar aos nossos filhos
como nos reencontramos um dia.
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