Escorria eu litros de
suor frio enquanto redigia versos e prosas
Enquanto tu
deambulavas em ruas perigosas
Esbelta, charmosa,
perfumada de água de rosas
De lábios pintados e
carnudos, cabelo solto e olhos vidrados
De um verde
fascinantemente teu
Eu, perguntava-me
vezes sem conta
“ Porque é que o
destino juntou
Duas almas tão
diferentes? “
Mas a escrita
respondia-me com a suavidade
Que só uma arte tão
romântica comporta
“ Os opostos
atraem-se, como
Nitro e glicerina, a
arte simples, pura e dura
Ou a luxúria
espiritual, física e quase
Arquitetónica que
essa
Tua paixão define em
cada passo ou
Cada frase”
Nesta base estruturei
Um projeto de
paciência
E sapiência
Soltei a minha fera
silenciosa neste papel branco
Mas ela continua a
não vir…
Tento escrever de
várias formas
Tenho o tema mas
aquela acendalha que faz
Acender a luz da
criatividade
Hoje resume-se a uma
ténue
Chama indefesa e
solitária
Num laivo de loucura,
grito :
“Porque não vens
inspiração?
Porque não tens ter
comigo?
Para que eu possa
Fazer-te destilar
magia
Sinceridade e ironia
Cuspir de um só jorro
metáforas
E recursos
estilísticos
Das mais variadas
índoles
Noites e noites de
amor
Paixão e sexo verbal
como só
Eu e tu sabemos e
fazemos
Porque teimas em te
esconder nessas vielas
Onde o ócio
E a descrença
corrompem
Cada migalha de
esperança
E vontade de criar? ”
Abro-lhe a porta do
meu coração
Como um abrigo
Um amigo
Recente e antigo
Que a pode
Voltar a colocar em
patamares
De excelência
Afastada de vez
desses antros
De veneno e violência
Num clique!
Ela chega!
Galanteadora
Aquele ar de
superioridade nata
Como que se já
tivesse nascido num
Berço de ouro
adocicado
Pelo bom da vida
Invades o meu
espírito
Intravenosamente
Como uma qualquer
droga ilícita
….
Já relaxado, calmo e
imbuído na poesia
Pergunto num sussurro
“Porque demoraste
tanto?”
“Por onde andaste
Inspiração?”
Ela responde de olhos
molhados
Voz trémula
E as palavras a
enrolarem na emoção
Que as embalava
“Fugi para recolher
novas
Substâncias, experiências,
situações,
Emoções e hábitos e
fragrâncias,
Tornei-me numa
fugitiva
Para que um dia, no
dia
Do meu regresso,
pode-se
Te tornar um escritor
tão mais
Completo
Do que aquilo que
eras outrora.
Sacrifiquei-me por ti
meu amo.”
Depois disto, abraçamo-nos
Fortemente, como dois
namorados
E vagueamos na líbido
mental
Que se libertava
fluente como
Um riacho numa serra
intacta
Pela ceifa homicida
do homem
E escrevemos
infinitamente
Até o corpo ceder à
frieza
Do cansaço e da
excessiva
Estimulação mental,
Nesse dia, fiz amor
com palavras!