domingo, 30 de dezembro de 2012

O Velho Misterioso!




O Velho Misterioso!
Numa escadaria escura e sombria, abria-se uma porta torta que fazia um ranger assustador como morrer numa forca. Eu subia essa escada, assustado e de sangue gelado nestes tubos de ensaio que são as minhas veias, degrau a degrau vou ficando cada vez mais próximo da entrada de um mundo desconhecido onde a surpresa mora atrás de cada esquina. A minha sina é ser perseguido por demónios alucinantes, lancinantes dores interiores que me perfuram a caixa torácica. A porta aberta vai deixando antever um brilho de um branco espesso e apático quase como uma prisão de solidão e marasmo que adormece o espirito e aprisiona-o numa cela de inércia. De dentro deste paraíso sádico entoa uma voz cavernosa, obscura e rouca como se o diabo fosse um ser provido de aparelho vocal. Essa voz disparava palavras de ordem contra a minha pessoa, como se de um atentado verbal anárquico de um qualquer protestante sem rosto mascarado por uma imensa aura branca se tratasse, e eu, aturdido numa dor sórdida, ia completando a curva ascendente, iluminado por candelabros acesos com fogo e azeite, as paredes revestidas de um já musgoso papel de parede com inscrições em hebraico e imagens de seres da fantasia da idade média. Pé ante pé, finalmente alcança o cimo da célebre escadaria, uma luz ofuscante tolda-me a visão, como uma espetacularidade assombrosa que parecia o prefácio para a poesia sobre-humana que se iria abater sobre o meu cabisbaixo momentos depois. Reabro os olhos, timidamente, ainda meio cego de tanta luz, caminhei perdido, sem direção num rumo desconcertado, os meus pé guiam-se numa autonomia quase bíblica, durante minutos pareço um comboio desgovernado à beira do descarrilamento abrupto, mas num repente avisto ao fundo, sentado num trono ornamentado por ouro e prata, numa luxúria quase insultuosa num deboche gritante, um homem velho, desgastado pela efeméride que faz questão de o atraiçoar a cada passo dado em falso. Na sua voz mórbida vocifera frases cheias de acidez e lascas para incendiar qualquer alma. Mantenho-me firme na minha aparente acalmia e pergunto-lhe o que pretende de mim para me enviar tão insólito convite. 30 Segundos passaram, numa contagem decrescente num ritmo vertiginoso, até que o velho se manifesta com sua deliberação sobre a minha questão, diz ele que escolheu-me para fazer parte de um movimento que vai revitalizar o mundo, num rasgar de horizontes sem paralelo, para queimar de vez os dogmas que bloqueiam a engrenagem que faz evoluir o planeta. Seria o seu porta-voz no que seria o novo acordar do gigante adormecido que é o homem enquanto peça-chave do xadrez que pode devolver à população a pureza que ela perdeu com o degredo da mente. Penso e repenso na proposta, ponderação profunda como introspeção. Quando por fim alicerço uma resposta convicta, dirijo-me ao velho e digo-lhe que aceito ser a voz da mudança, o porta-estandarte da nova geração que vai revolucionar o mundo tal como o conhecemos. Velho sorri, seus olhos brilham como esmeraldas, o seu verde vivo impulsiona lhe o viver. Então ele diz que tenho que espalhar a sua palavra em forma de escrita e que me abençoou com esse dom no momento em penetrei no seu templo. Olhamo-nos de frente durante 5 longos minutos, fundo como uma raposa visa a sua presa e após esses momentos de concentração e leitura mental, pergunto-lhe o seu nome, curioso para deslindar quem seria aquele homem com ar de deus grego que me convidava a ser seu seguidor e porta-voz. Ele, com a certeza e forma de que se formam os génios, diz: “ eu meu caro discípulo? Eu sou quem te guia, quem te diz o certo e o errado e quem quer que tu espalhes essa mensagem ao mundo, eu sou aquilo e quem te conhecer melhor, sou a tua consciência”…

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Prostituta





Isto é uma história entre um milionário e uma prostituta
Pobre mulher que vende o corpo numa rua devoluta
Noites demoníacas passadas ao frio gélido duma nortada
Assombrada pelo peso de sustentar uma criança a seu cargo
Que gerou no seu ventre durante 9 meses numa gravidez súbita
E sem ser planeado, o pai fugiu como um cometa no céu cinzento
Deixando a indefesa menina á merce das feras sanguinárias das vielas
O milionário passava na paragem todos os dias, no seu Porsche Pana mera
À espera de despertar a líbido numa das “meninas” que se passeavam
Num instante! Vê a mais bela, mais jovem, de seios firmes, pele pura
Lábios carnudos e pintados dum batom vermelho garrido, brilhante e
Intenso, cabelo loiro natural, preso por um totó, saltos altos pretos
Contrastando com o vestindo tenuemente transparente, que conferia
Uma sensualidade elegantíssima como uma manequim que desfila focado
Numa luz da ribalta. Baixa o vidro fumado do carro, tira o charuto Cubano da
Boca e com um discurso de galã, envenenado por uma lábia afiada como granito
E um jeito de moleque fresco como seda. Raquel, (nome da prostituta), chamou
À atenção do ricaço, fez-lhe o sinal habitual para Raquel se abeirar do carro, para um
Diálogo mais privado, acalorado por um dom quase antológico deste homem afogado
Em notas. Conversa tida, acordo feito, Raquel entra no Porsche, tímida,
Nervosa e assustada.
Acabaram num hotel 5 estrelas, direito a jacuzzi, champagne Don Perignon, 
Morangos, música ambiente, trechos de Mozart, beijos, carícias, para o milionário
Era prazer, pornografia ao vivo, deboche ou desbunda, para Raquel, era trabalho,
Sacrilégio e uma cruz pesada de carregar. Mas…
Os encontros tornaram-se frequentes, cada vez mais apaixonados, o amor envolveu-os
Numa bolha de loucura, paixão e intensidade, dois corpos em ebulição, combustão espontânea de tesão, excitação ou desejo carnal.
Sem pagamento, tempo contado ou outros limites na consumação do amor que os unia já
Numa quase cavernosa relação de luxo, sem acompanhantes ou homens de negócios engravatados. Decidido a mudar a vida de Raquel, o Milionário, comprou casa, para si, Raquel
E a sua filha, Matilde, onde iriam viver tranquilos, enterrando numa sepultura escura e fria
O passado descomunal, aterrador para qualquer elemento do sexo feminino, pondo em causa a sua integridade corporal, espiritual e moral.
Mas.
O seu chulo, que só agora aparece, num rasgo de ironia e uma sádica e no limiar da psicopatia,
Soube da desistência da sua “colaboradora”, enfurecido, tratou de saber através da sua lista interminável de contactos obscuros que Raquel vivia agora numa moradia, com um senhor de alta casta da sociedade,
Foi lá a casa, intimidá-la, para que volta-se para o seu infernal ofício, malefício para alma
De arma de 9 milímetros, 6 balas, instala o pânico na mansão, Matilde chorava assustada, Raquel vociferava palavras de calma para que ele saísse de sua casa,
Balas foram disparadas para as paredes, ornamentos, mas nenhuma feriu mãe e filha.
O milionário soube disto e mandatou matar o chulo, uma equipa de seguranças paga por si para casos especiais.
Passados dez anos!
Matilde era uma aluna de referência no ensino secundário, Raquel uma escritora de sucesso
Com 4 livros publicados, uma das quais uma autobiografia, mas o Milionário era vítima dum
Terrível celeuma, um sarcástico linfoma foi viral no corpo deste ainda jovem rapaz, fazendo dele uma sombra, um esqueleto, uma caveira mal decalcada da sua face jovial de outrora.
No dia 27 de Maio, no hospital São João de Deus em Vila Nova de Famalicão, o milionário sucumbiu ao linfoma que lhe varreu as defesas do organismo. Passado um mês, Raquel edita o
Seu 5º livro, chamado “As Ruas do Luxo”, no auditório da universidade onde o Milionário estudou durante 3 anos, cursando criminologia.
Dedicou o livro ao seu companheiro dos últimos 10 anos, que escreveu o prefácio do livro
E no discurso final do lançamento, Raquel embevecida pela emoção, disso estas mágicas palavras
“ Ele (..) foi a única pessoa que acreditou em mim enquanto me vendia na rua, entregue a um atroz futuro vão como a mais esbatida cor numa parede de cal. A sua doença enviou-o para longe de nós fisicamente, mas a sua alma perdurará na minha mente e do meu coração e do da Matilde, com todo o respeito e saudade que te tenho, adoro-te meu menino.”
Esta história ensina-nos a respeitar quem nos ajuda durante a nossa vida, nos bons e maus momentos. Cada pessoa deixa a sua marca, há que saber respeitar e amar essa marca como se fosse parte de nós!
O Mundo está ligado entre si como um elo!

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Citrus






Numa era em que a evolução tinha conhecido um avanço exponencial, explosivo, uma erupção de tecnologia e informática, emergia uma figura ímpar, única e sem qualquer paralelismo. Alguém que reunia entre toda uma unanimidade quase universal, ultrapassando as barreiras da desconfiança e sobranceria de toda aquela sociedade materialista, capitalista e homicida.  O seu nome era Wolfgang, filho de país alemães, mas nascido em Citrus, uma cidade construída debaixo de terra, para evitar a intensíssima exposição dos raios ultravioletas que romperam como seda a camada do ozono e agora sobreaquece a terra duma forma monstra. Citrus foi concebida em escritórios, laboratórios e no cérebro do maior génio que pisou o chão de Lastros, (cidade que por debaixo de si ostentava Citrus). Foram anos de evolução de Lastros mas quando começaram os incêndios e a fustigação de florestas, queda de prédios, árida paisagem engoliu Lastros tal e qual um glutão. Esse génio era Urbano, um cientista Mega Céfalo, com um Q.I assustador, atingindo um pico e amplitude de pensamento completamente astrológico. Durante 30 anos reuniu à sua volta centenas de construtores, engenheiros, pintores, carpinteiros, eletricistas, mineiros, informáticos entre outros, munindo-os com tecnologia de ponta, duma qualidade assombrosa, com o intuito de fazer erguer uma cidade subterrânea, com total autonomia, atingindo um patamar quase surreal da coexistência entre homens e máquinas. Foram décadas de labor intenso, muito suor e noites perdidas a calcular centímetro a centímetro para que tudo seja feito dentro do maior rigor a que o ser humano pode ser sujeito. Wolfgang era o braço-direito de Urbano, dono duma mente avançadíssima para a idade, 27 anos apenas, voz ativa da revolução em marcha no subsolo rico em minério que era usado para criar geradores de energia para iluminar a cidade, criando um jogo de luzes que emprestava uma tonalidade por vezes suave outras vezes aguerrida à urbe e todo o seu esplendor. Com a cidade no ponto-rebuçado, a satisfação de Urbano e Wolfgang era notória, um esgar de sorrisos e felicidade rasgava a face destes dois iluminados. Mas como tudo, nada é um mar de rosas, um vírus instalou-se na cidade, fruto de combinações genéticas aberrantes por parte de um louco cientista renegado por toda a população de Citrus, antigo membro de um movimento ativista neonazi alojado nos confins de Citrus, na sua parte já degradada devido à destruição feito pelas vítimas desta bactéria assustadoramente eficaz e resistente. Este mago do terror dava-se pelo nome de Potros, nome com ascendência grega mas que intitulava um dos maiores cancros da história da humanidade moderna. O vírus penetrava de modo intravenoso na corrente sanguínea do homem ou mulher, operando-lhes mutações físicas e mentais, transformando o seu intelecto num antro de podridão, violência e carnificina. Mortos-vivos começaram a deambular pela cidade, ávidos de sangue como vampiros da idade média, esfomeados de mortandade, foram estropiando corpos em série, tornando Citrus num matadouro privado. A dupla maravilha Wolfgang-Urbano ao tomar conhecimento do sucedido decidiu criar um ciborgue dotado de uma força brutal e duma inteligência sobre-humana aliada a uma agilidade duma chita para combater tal praga de moribundos a navegar sórdidos pela “cidade-perfeita”. Usando um jovem de 16 anos como cobaia foram-lhe administrados componentes de aço no corpo através de implantes e injeções, tornando o seu corpo robusto, sólido como uma rocha, também lhe foi transmitido um treino dado por um especialista em destreza motora, para aumentar a fluidez dos gestos e a rapidez com que os executara. O ciborgue permanecia durante a noite escondido numa cama com um líquido amniótico para o alimentar e lhe conferir mais defesas tal como as mães fazem com os bebés na placenta durante a gravidez. Foram 7 meses de suplício em Citrus, tal a angústia que se vivia perante o holocausto de mortes e terror que na tela quase utópica que este centro de evolução tomava o lugar dum vermelho aterrador, tal era a quantidade de sangue jogado nas ruas. Passado este hiato de ação de Urbano e Wolfgang o seu antídoto ao vírus de Potros que se esgueirava pela cidade como uma serpente que se move quase num deboche sensualmente assassino nos esgotos da cidade entrando por via oral no organismo, quando os habitantes ingeriam água respiravam. Mas a máquina tava afinada, preparada como um frio matador concebido com um único objetivo: Acabar com Potros, acabar com o vírus e todos os infetados. O ciborgue chama-se C7 e foi lançado nas ruas de Citrus para aniquilar o zombies que mergulhavam a cidade num leito de uma babilónia mórbida, começando a executar sem dó nem piedade, limpando a cidade duma maneira velocíssima, com uma mestria só ao alcance dos predestinados.  Só restava um único e derradeiro objetivo: Eliminar o vírus pai de toda esta revolução genética. Calcorreou quilómetros em cima de quilómetros para chegar à cave laboratorial do doutor Potros, edificada num vale rodeado de cordilheiras ensombradas pelas suas aberrações. Foram 3 dias de busca incessante até que finalmente encontrou o refúgio do terrorífico inventor, entrando pelas traseiras, por dentro duma conduta de ar condicionado, subindo até á ventilação da sala principal, onde bombeava líquidos que alimentava um pequeno núcleo protegido por uma redoma de vidro que dava o ser ao vírus. Num gesto de frieza atirou com uma eficácia soviética para a redoma para quebrar a proliferação da infeção na cidade, mas ao tentar danificar o núcleo o alarme disparou e cinco seguranças apareceram munidos de metralhadoras de ultima geração, disparando a eito, tentando liquidar C7. A única coisa que C7 fez foi levar consigo a redoma com o núcleo, para ser analisado nos gabinetes de Wolfgang e Urbano, saindo ferido de um intensíssimo tiroteio com a segurança. Cambaleou noite e dia até à sede, sendo de seguida alvo de cuidados médicos e tecnológicos para voltar a coordenar e sincronizar as ligações simbióticas e analógicas do ciborgue. O núcleo tinha um tempo a contar até à sua explosão que emanaria um fluxo de veneno sobre a cidade apodrecendo-a e levando-a à destruição. O tempo fugia como areia dos dedos, como uma ampulheta que assustava o espírito com a sua retidão temporal e os dois cérebros não conseguiam deslindar qual a forma de desmantelar tal bomba. Depois de dois dias, faltavam 5 minutos para a bomba rebentar e na sala o suor pingava da testa dos dois crânios e os ritmos cardíacos aumentavam duma forma cavalgante, Potros juntara um exército de mortos-vivos para rodear a sede, montando uma vigília à porta para assistir de lugar cativo à queda do império Wolfgang. Mas! Num rasgo de loucura e insanidade quase hercúlea mas que parou a contagem decrescente, numa digitação de um código, recheada de sorte como uma lotaria, digitou as duas datas de nascimento, a sua e a de Urbano e ano em que se encontravam e quase miraculosamente funcionou, dilacerando o vírus e trazendo à vida os mortos-vivos e fazendo uma perseguição impiedosa, liderada por C7 ao cientista Potros, prendendo-o e fazendo confessar todos os crimes, sentenciando a sua pena de morte, fechando-o numa jaula com um tigre siberiano. As pessoas que estavam feridas pelo vírus, foram tratadas, integradas nos empregos, guiados de volta à sua vida normal fora da intempérie humana que assolou Citrus. Os anos passaram e Urbano já muito idoso, faleceu devido a um derrame no cérebro, ficando Wolfgang à frente dos destinos da cidade, com um olhar focado sobre qualquer outra maleita que poderia afetar a normal coexistência entre homens e máquinas. A evolução ajuda-nos a alcançar patamares incríveis mas também tem o seu reverso da medalha. Toda a atenção é pouca!
Em cada esquina está um perigo ao nosso sucesso, estejam atentos!

domingo, 16 de dezembro de 2012

"A Magia do Futebol"

Link do meu artigo no Jornal Record.

"A Magia do Futebol"

http://www.record.xl.pt/opiniao/leitores/interior.aspx?content_id=794288

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Fado


E isto é um fado
Que canta as agruras da vida
Que ensina a todos de todo o lado
O coração de uma mulher vivida
Construí uma muralha para me guardar
Dos pesadelos que me consomem
Tenho todo o prazer em me fardar
E marchar contra estes que tudo me comem
E isto é um fado
Na voz de quem o viu nascer
Num propósito encantado
Tudo aquilo que me faz viver
Cabe neste meu ser amado
Livre como uma gaivota
Em cada português há um fadista
Que para a poesia nos vota
Com lábios de romancista.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Doido Varrido!

Adoro a tua forma de ser 
de estar e de mexer.
conhecer as tuas formas
decisões e normas
acordas!
Estremunhada, estranhas as entranhas
que te entranham nos lápis
que te desenham.
Curvilínea como linhas de um desenho
desdenho a tua sorvia 
olho os teus esbugalhados olhos 
num momento de dúvida.
Dividido, vivido, primitivo
imperativo, regenerativo 
generativo, apelativo
num relativo modo de
relatar quem tem lata
para exigir, sem ter que cingir
ao restrito.
Estrito, estreito o parapeito
paro o peito em frente à bala
abala antes que acabe o mundo
já vais tarde sócio, já estás imundo.
Falas devagar como se andasses ao para trás
cara de arrogante, como se criticasses o que ele trás
atrás de mim como uma patroa
já sei porque o marido meteu baixa
aturou-a!
Hipérbole de ti próprio, cópia mal tirada
viciado em ópio como uma desenterrada
enterrada em fármacos sem receita
como uma seita, só fazem destroços
como Patacos.
Dinheiro faz girar o eixo da terra
desterra a tua prima
que prima pela sensualidade
dualidade de rima sem qualidade
habilidade.
fidelidade, fiável via para elaborar atitudes
rudes como a ruindade das vielas
à luz de velas
como pessoas sãs
doces e meladas como creme de avelã
como lã fofa, 
amorfa sensação sem sanção
que sanciono nesta linha
gizada com ódio e raiva
como quem fuma um Paiva
derreto papel e tinta
com fúria distinta
eloquente e fantasista como uma finta.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Já Foste





A todos os que desejaram a minha ruína
Coitados dos tristes, releram a vossa sina
Cada vez mais forte, progresso automático
Olho para o céu vezes sem conta, escritor lunático
A vossa inveja engole-me como motivação
Rio-me na cara do vosso ar de reprovação
Vi amigos gozarem do meu trabalho
Mas como o burro e o joker, estão fora do baralho
O dom nasce com as pessoas, não inventem balelas
Senão acabam sozinhos a rimar à luz das velas
Tenho o respeito da rua e a bênção dos grandes
Tu tens a mágoa de não ter disso nada, andes por onde andes
Roubas a alegria aos tropas como se roubam fios de cobre
Eu crio fantasia e literatura para brilhar no horário nobre
Enobrecido pela inteligência de quem me eleva até ao topo
Já vens tarde com a difamação amigo, já caí no goto!

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Diário de um estudante.





Diário de um estudante.

“Atenção, atenção!
Vem aí o professor!”
Dizia a Cristina, uma loira estonteante,
Que era da minha turma.
Estava uma algazarra pegada na sala de aula
Conversas paralelas, burburinho incessante,
Alunos sentados em cima da mesa, num ar
Descontraído, como se a sala fosse o começo
Do recreio. Mas após o anúncio da loiraça,
Num minuto, todos se sentaram, puxando
Pela concentração e fechando atrás dos lábios
Um qualquer sorriso maroto que restava de uma
Piada acabada de contar no tempo limite do toque.
“Olá a todos, hoje vamos falar vossa infância”
Era o professor Paulo Acácio,
Professor de filosofia, por estar no 10º ano
De humanidades, uma das disciplinas
Que comecei a ter foi a filosofia.
“Da nossa infância Stor?”
Perguntamos em uníssono
Espantados pela singularidade da temática
Escolhida para a aula de hoje.
“Sim! Cada um de vocês vai falar
De como viveu a infância.”
A aula foi passando,
Cada um foi abordando o assunto
De acordo com aquilo que viveu
Uns felizes, outros mais tristes,
Mas todos falaram.
Faltam 2, eu e a Érica.
Eu falei na boa, tranquilo:
“Professor, adorava jogar à bola,
Ver desenhos animados, brincar
Com bonecos de super-heróis,
Como Batman, Homem-aranha,
Entre outros. Tive uma infância normal
E feliz”
Disse eu no meu jeito despreocupado
E de quem está de bem com a vida.
A última era a Érica, que era uma miúda recatada
Baixa, gordinha, cabelo castanho, uns olhos de um verde
Esmeralda, mas cobertos por uma película de tristeza.
“Como todos já falaram da sua infância, faltas tu
Érica. “
Passaram 5 minutos e a Érica timidamente
Começou a falar.
“ A minha infância foi difícil.
Devido a minha fisionomia, era gozada,
Humilhada, chamada de gorda, feia pelos colegas
De turma. O ambiente em minha casa nem sempre
Foi o mais indicado para o crescimento de uma criança.
Os meus pais trabalhavam numa feira, mal estavam em casa,
Fui criada por uma tia,
Ajudava na mercearia dela,
Chorei muito fechada no quarto,
Imaginando ter uma turma de que gostasse.
Onde fosse respeitada, ouvida e elogiada.”
As lágrimas corriam no rosto da Érica como
Sprinters numa corrida.
A turma estava fixada toda no testemunho
Da nossa colega,
Os corações batiam com uma velocidade
Acima da média, para a 3º aula de filosofia do ano.
 Érica terminou o seu testemunho, dizendo:
“ Quero agradecer ao professor
Por me ter feito desabafar disto
Que me atormenta.
Tenho gostado dos meus amigos novos.
E espero que me vejam como eu sou.
Uma pessoa normal, amiga, adorava ser feliz
Com estes novos amigos”
O Professor agradeceu à Érica,
Com a voz embargada em emoção.
Eu levantei-me, como um rasgo de loucura
E bati palmas, senti que aquilo vinha do coração,
Era genuíno. Num ápice toda a turma se levantou
Num gesto de homenagem pela coragem da nossa
Nova amiga.
Isto passou.
Passado uma semana:
A Érica mais integrada,
Por esforço dela e da turma,
Num ato de ajuda para que
Se pudesse melhorar a vida
Da nossa colega,
Perguntou ao professor se podia
Ler um recado que a tia lhe tinha escrito
No caderno, quando a sobrinha lhe contou
O que tinha acontecido na aula de Filosofia.
E o Professor Paulo Acácio, assentiu de imediato,
Assim sendo a nossa amiga passou a ler o recado:
“ Senhor professor queria-lhe agradecer por tamanho
Gesto de bondade para com a minha sobrinha.
A vida dela não foi fácil, mas ao permitir-lhe que ela fala-se
De tudo, tirou-lhe um peso enorme das costas.
Agora tem gosto em ir para a escola, aprender coisas novas.
 E uma palavra aos seus colegas de turma,
Por terem feito para a integrar no seio do seu grupo.
A todos um grande obrigado, Sónia “
O sorriso não cabia nos lábios do professor!
Os olhos brilhavam.
Depois de limpar a voz da alegria e excitação
Do momento,
Disse-nos, a nós turma, um par de frases
Com muito conteúdo.
“ Miúdos, a filosofia tem como
Matriz, melhorar o ser humano através
Da sua mente. Limpar o que de mau existe nela
Para se poder viver de acordo com o meio
Em que estamos. Hoje sinto que ajudei
Alguém a ultrapassar uma má fase.
A abrir uma nova estrada no caminho da vida.
Isto será útil na vossa vida.
Saberem ultrapassar os problemas
Com destreza e coragem.
Obrigado a todos!”
Eu, Rui, dantes era despreocupado
Com as lições da vida
Agora, ao ir para a pastelaria
Do costume, com os meus amigos
Pensava naquilo que se tinha passado
Na aula.
Enquanto os meus amigos discutiam futebol,
Miúdas, músicas, eu estava parado no meu canto
Calado e pensativo.
Um amigo meu perguntou-me,
“Então Ruizinho? O que tens?”
E eu respondi logo de seguida.
“Na duas últimas aulas de Filosofia
Senti que a vida dos outros diz muito
Daquilo que poderá ser a nossa vida.
E a partir de agora vou começar a
Ser mais atento aos problemas dos outros”.
Acabamos o lanche, fomos para casa
Depois de tomar um banho, estudar
(ou tentar pelo menos)
Liguei o computador
E escrevi tudo o que se passou
Nessas duas aulas.
Para que quando me queixar de um
Problema, me lembre que bem próximo
Pode estar um caso bem mais sério.

Rui Castro.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Expresso




“….Expresso ensombrando pelas aves agoirentas que por cima de si pairam, numa vigilância quase diária. Bando negro de patrulha dos céus que cobrem este nosso mundo. Viajo neste expresso que mais parece a arca de Noé em versão malévolo  vejo pessoas sem braços, sem cabeça, olhos pintados de um cinzento demoniacamente subtil, nas veias destes seres não flui sangue, flui maldade em estado líquido, escorre vertiginosamente como se compassa-se a velocidade da carruagem em direcção à gare do inferno. Vejo bruxas criando aberrações com experiências mal concebidas, feitiços mal feitos, magia negra que pinta de um negrume intenso os vidros que não deixam transparecer para dentro, a imagem de destruição desumana que irrompe pelos olhos de quem foge destes diletantes que incendeiam, destroem, esmagam, liquidam e aniquilam quem lhes ousa fazer frente. A babilónia tomou conta dos destinos da nossa existência. Queimaram a flora, mataram a fauna, aprisionaram as massas em celas de bloqueio mental, dentro de 4 paredes, com um baixo pé direito, quase como uma cave. Tornaram os seres humanos em ogres oprimidos sedentos de vingança, morte e pandemónio. Roleta russa de invenções, torturas e mutilações, tipo um filme do Tarantino. Um bafo a cadáver emana das profundezas do expresso, tenso ambiente, olhos de vidro incrustados na face de quem a tem, outros especulam gestos como se quisessem dizer algo que lhes está entravado na traqueia à anos a fio… é o expresso…”

terça-feira, 20 de novembro de 2012

O Mar



Tanto mar nos cerca
a imensidão é tamanha
que para que um barco se perca
não é nenhuma façanha

os marinheiros saudades deixam
na terra onde ficam as Marias 
quando voltam seus lábios beijam
inundando-as de alegrias

canta o cego a canção
do amor destes gentes
toldado por tanta emoção
trazida pelos homens indigentes

trovas lançados ao ar
por quem as sente na alma
um bem haja a quem vai ao mar
para desencanto da minha calma


domingo, 18 de novembro de 2012

O Mago.




Chamamento ecoa por dentro das galerias da montanha..
o dragão clama pela progenitora ..
assustado pela escuridão mórbida que o cerca
o medo é tal que o discípulo de besta treme e lacrimeja
a sua mãe esvoaça nestes céus escuros como breu
destilando terror e lançando fogo em cidades inteiras
dizimando as casas e capturando as pessoas para alimento
na sua caverna o sangue colore os esqueletos amontoados
empilhados como se de medalhas fossem de uma caça frutífera
uma morgue que serve de parque de diversões para as crias
o macho foi morto por uma briga entre facções adversárias de dragões
a fêmea volta ao ninho para suprir a fome obsessiva dos petizes
ao lançar os corpos já defuntos no chão dá-se a loucura
num rasgar de carne e um partir de ossos alucinante
os aspirantes a terríveis animais dos ares 
estropiam por completo os corpos sugando tudo
o que deles conseguem sorver como um saque
total a um corpo já indefeso,
o mago entra na sala
alto, cabelo grisalho e liso
de um porte físico possante e firme
as suas mãos tocam a bola de cristal com
um carinho quase maternal
com um olhar maquiavélico olha para a 
caverna que criou para albergar as suas criaturas
espalha o terror pela cidade
numa era onde a magia se regia em
tons de negro, este homem tomava as rédeas
num cavalgar assassino até à glória total
controlar todo o mundo!
A noite cai numa queda estonteante
até ao mundo dos mortais
onde, na espessa camada de escuridão
só os mais aptos física e mentalmente
sobrevivem aliados a este senhor da maldade
o mago...

(continua..)

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Isis e Martim, a paixão poética!





6 Da manha num inverno bafejado por um frio siberiano,
Os lagos de Kiev totalmente cobertos por uma película grossa de gelo
Conferiam uma roupagem de mistério e galanteio a quem lá passeava.
Isis, uma jovem ruiva, de olhos acastanhados e grandes como montras de romantismo,
De um corpo magro, nada curvilíneo mas de uma simetria inquietante,
Uma pele apimentada por um sem número de sardas que lhe conferia uma tez
Desigual a todas as outras. Isis tinha 18 anos, filha de pai ucraniano e natural de Kiev
(Capital da Ucrânia) e de mãe portuguesa, natural de Évora.
Seus pais conheceram-se quando o seu pai, chamado Mikhail, arriscou emigrar
Para Portugal, em busca de um futuro melhor e para fugir à miséria brutal
Que assolava o país de leste por aqueles anos.
Mikhail arranjou trabalho num supermercado em Évora, o supermercado
Era o Lidl, situado no centro da cidade e com grande afluência a nível de clientela.
Mikhail, sempre prestável e trabalhador foi conquistando os responsáveis e
Colegas de trabalho com o seu empenho, acabando por ficar de pedra e cal,
Garantindo um trabalho, um salário (que guardava para voltar um dia para a sua pátria natal)
E uma estabilidade que há muito não tinha.
Um certo dia, uma castiça rapariga deu entrada para trabalhar como operadora de caixa,
No supermercado, chama-se Sónia, de um cabelo ruivo apanhado por um totó,
Uns penetrantes e viciantes olhos azul-mar, tão profundos que faziam suspirar até
As pedras da calçada tal era o fascínio que insinuava com cada olhar que disparava como
Flechas de amor. Um corpo muito bem tratado, com uma pele sedosa como a mais fina
Seda teada por uma costureira de perícia inegável.
Dona de um sorriso belo e luminoso como o sol ao meio-dia, contagiante
E duma pureza de primeira água.
Sónia foi uma lufada de ar fresco na “vida” da Lidl,
Simpática, eficiente, solidária, Sónia reunia todas as condições
Para ficar longos anos a desempenhar esta função.
Mikhail logo se enfeitiçou pelos encantos tamanhos
Da jovem Eborense. Logo meteu conversa,
Um café aqui, um jantar ali, um cinema e um namoro
Fervorosamente assumido.
Namoram 5 anos, já viviam juntos num apartamento
Perto do posto de trabalho.
Quando já tinham um pé-de-meia sólido
E já com uma maquia interessante,
Mikhail propôs à sua amada a possibilidade
De ir com ele para a Ucrânia, leste da Europa.
Depois de muito pensar, repensar, ponderar
Por tudo na balança da consciência, passados alguns dias
Sónia decidiu ir com Mikhail. Uma aventura com tanto
De risco como de paixão terna e mágica.
Instalaram-se em Kiev, terra natal de Mikhail,
Com o dinheiro que traziam de Portugal, montaram
Uma livraria, para fornecer livros e material de escola
Como canetas, cadernos, marcadores, capas, manuais escolares
Entre tantos produtos no espólio escolar atual.
O negócio foi de vento em poupa, a livraria ganhou clientela,
Fama, movimento e o dinheiro entrava com muita frequência.
Depois de 2 anos de união no país que outrora fora da Ex União Soviética,
Nasceu Isis, fruto de muito amor e desejo de serem pais.
Isis foi subindo no ensino, primária, depois ensino básico, secundário
Até completar o secundário sempre com boas notas, numa regularidade
Tipicamente implícita no modo de estudo dos países de leste.
Numa manha, as 6 da manha, um frio brutal, menos 6 graus na rua,
 Dentro de casa a temperatura chegava aos 10 graus devido ao isolamento
E a meia-dúzia de aquecedores ligados logo mal o sol raiasse no céu ucraniano.
Isis acorda lá para as 8 da manha, sempre com o sorriso que herdou da sua mãe,
Pressentindo que algo estava para acontecer numa premonição que lhe acossava a alma
Como uma cócega do destino na banal vida de um simples mortal.
Mikhail, juntamente com Sónia, tinham preparado uma surpresa para a sua querida
Filha, uma viagem a três até Portugal, nomeadamente até Évora, cidade que por aquilo
Que os pais diziam, criou um entusiasmo tal no coração da jovem que a notícia da visita caiu
Como um mimo para quando estamos necessitados.
Isis pulava de alegria e mais pulou quando visitou as ruínas romanas
Monumento quase “obrigatório” de visitar aquando de estadia nesta cidade
Alentejana.
Os seus pais, aproveitaram o facto de estarem lá, para visitarem amigos que tinham ficado
Do local de trabalho, dos cafés que frequentavam entre outros hábitos.
Ao visitarem a casa de um casal amigo que trabalhava no Lidl na mesma altura que Mikhail e
Sónia,
Aproveitaram para apresentar Isis ao casal amigo, que ainda não a conheciam,
Mas este casal também já tinha um filho, O Martim, um miúdo de 18 anos também,
Olhos verdes, musculada, cabelo castanho, cara de reguila e muito, muito talento para a arte
Do engate.
Duas conversas com Isis e os iscos estavam lançados no coração tenro e sedento de paixão da jovem.
Troca de números de telemóvel, endereço de Facebook para comunicarem quando esta
Estivesse na gélida Ucrânia.
A visita a Portugal teve o seu término, Isis voltou para a sua terra, mas sempre com o bichinho
Chamado Martim a corroer-lhe o cérebro com poemas, longas conversas sobre musica,
Porque Isis derivado de ter mãe portuguesa dominava também a língua de Camões.
Falavam sobre música, cinema, amor, literatura, sonhos, metas pessoais, tudo
O que equaciona-se o seu futuro a médio-longo prazo.
Andaram nisto durante 6 meses/1 ano, até morada Isis já tinha dado a Martim para uma
Futura visita a sua casa.
Martim preparou tudo com o aval dos seus pais, para fazer uma surpresa a Isis,
Juntou dinheiro com o part-time que arranjou nas férias, a servir num café da zona.
No dia do Voo, foi de comboio até Lisboa, voando depois para a Ucrânia, ao pisar solo
Ucraniano, em Kiev, ligou logo a Isis dizendo que estava no aeroporto, que ironicamente
Ficava a 1 quilómetro de casa da jovem.
Isis gelou!
Nunca pensou que Martim fosse capaz de fazer algo desta magnitude só para a ver.
Apressou-se a ir busca-lo ao aeroporto, nunca os seus passos tinha tido um ritmo
Tão elevado.
Ao ver Martim sentado num muro, atolado em bagagem e um cansaço evidente
Desenhado na pálida face do jovem, abraçou-o com todo o carinho
Que durante anos tinha absorvido dos seus pais.
Chamou o táxi que a deixara lá para os levar para casa
Ao chegarem a casa, Martim foi muito recebido por Mikhail e Sónia.
Ficou duas semanas.
Mas, uma amizade já de si intensa, transformou-se num inevitável
E arrepiante e estupidamente intenso.
Tão intenso que no fim das duas semanas, Martim mudou de ideias
E já não tinha como meta voltar a Évora.
A ligação a Isis prendia-o como uma algema forjada numa fornalha do amor.
Mikhail e Sónia, assustados, ligaram para os pais de Martim, explicando a situação
E tentando apurar o que se iria fazer para gerir da melhor maneira esta paixão
Arrebatadora emergida dos confins do sentimento humano.
Os pais de Martim, como tinha uma abastada vida para poder suportar esta loucura
Do filho, mandaram dinheiro para ajudar à sua estadia na capital ucraniana.
Ficou mais duas semanas, um mês, 6 meses, 1 ano.
Já sem depender dos pais, arranjou trabalho na livraria dos “sogros”
Enquanto Isis cursava comunicação social numa faculdade situada mesmo
No coração da cidade.
Mas as coisas começaram a descarrilar para Martim,
Ao dominar a língua, juntou-se a um grupo de rapazes
Que tomavam uma vida mais de saídas a noite,
Bebedeiras e drogas.
De início era só uma coisa soft,
Mas no deslindar da situação na sua total forma
Isis ficou chocada.
Martim já roubara duas vezes a livraria em quantias
Avultadas para suportar a sua vida leviana.
Mikhail pô-lo fora da livraria e de casa.
Passaram 6 meses sem Mikhail, Sónia, Isis e até os pais
De Martim sem novidades do jovem que se revelara uma
Tremenda desilusão para todos.
Isis entretanto estava prestes a terminar a formação,
Estando agora no mestrado em jornalismo criminal,
Na mesma faculdade e ao passar por uma rua,
Escura, estreita e onde corria um bafio a vinho e podre
Que lhe conferia um aspeto medonho, mas que Isis tinha que atravessar
Para chegar a escola, Isis viu um corpo inerte no chão, espumando da boca
Com a roupa rota, calçadas tingidas com pingas de sangue, 
Ao ver o cabelo castanho e os seus olhos verdes, apercebeu-se num arrepio
Quase sádico que se tratava de Martin.
Tentou chamá-lo, acordá-lo, sacar dele algum sinal vital mas em vão!
Isis ao virá-lo, reparou num saco com pó branco, (cocaína)
E um papel sem linhas com um poema escrito por si em jeito de despedida.
Isis limpou as lágrimas, que lhe corriam de forma sagaz pela cara,
E tentou ler o poema que dizia:

“ Ao meu amor que tanto amo
 Estes versos eu declamo
Com carinho e muita culpa
De toda esta cúpula
Sangrenta e viciante
Alucinante e estonteante.
Se quando leres isto, já me
Tiver ido,
Recorda aquilo que para ti fui,
E não aquilo que poderia ter sido.”

Isis chamou a ambulância,
Chamou os pais,
Para serem informados da desgraça
E informaram os pais de Martim,
Que logo se descolaram de avião para a Ucrânia
Ainda chocados, atordoados pela notícia
Como se tivessem atingidos por um dardo
Cheio de uma notícia escabrosa.
No hospital quando foi declarado o óbito
Um homem branco, anorético quase, calvo,
De roupa suja com tinta e uma camisola caiada
Com cal, de brincos dourados, aspeto ideal para um
Toxicodepente.
Este levava uma foto de Isis e ao reconhecer a bela
Jovem abordou-a com uma diminuta simpatia
Apenas para lhe dizer:
“Isis?”
Ao que a jovem respondeu:
“Sim, sou eu, quem é o senhor?”

Ao que ripostou o homem:

“Chamo-me Atem, sou moldavo,
E nos últimos 4 meses, fui companheiro
De muitas asneiras, drogas, roubos, tráfico
Do Martim. Ele já sofria do fígado há muito
Tempo e nos últimos dias, pediu-me para te dizer
Que te amava e dar-te isto”…
“Isto” era um punhado de folhas sarrabiscadas pela
Caligrafia torta e talentosa do jovem alentejano.
Atem pediu a Isis, para passar isto para computador
E publicar estes trechos, cumprindo o derradeiro
Desejo de Martim.
Isis balbuciando palavras imbuídas numa emoção
Que trespassava o coração e só se soltava em forma
De um choro copioso que exteriorizava tal dor.
Passados 2 meses, os textos foram lançados em forma de pequeno diário
Isis orgulhosa do seu menino que mesmo depois de perder a vida nas ruelas
Visceral da droga e do crime ainda foi capaz de se entregar de corpo e alma
Aos seus 2 amores: A poesia e Isis.
O livro foi comercializado na livraria de Mikhail sendo um sucesso
E uma lição de vida para muitos que o leram.
Isis, era uma jornalista de prestígio que trabalhava numa cadeia
De televisão ucraniana com sede na capital.
Mas com sucesso e fama, nunca esqueceu a sua
Grande paixão, o seu menino, Martim.

O amor ultrapassa todas as barreiras, físicas, mentais
E sociais. Mesmo distantes pela barragem da droga,
A poesia juntou-os novamente.
Martim e Isis, o amor que vivia na paixão
Louca de um poema!

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Loucura




Não curto esses cocados
mano flipo com a aspiração
sugaram-te o cérebro para tubo
mano, lipoaspiração
isto é talento e transpiração
não digas mal de mim
sou imune a conspiração
ouço ruído como uma assombração
um símbolo para os meus amigos
rapaz, eu sou um brasão
inspiro a inspiração
ouço-vos a difamar
sempre, sempre a falar
a tua frase é como o dinheiro
em portugal
sempre a resvalar
não sou rapaz de dizer ai no chão
até ao dia em que vir o meu pai no chão
morto de medo de gajos com fatiotas
com a cara dos seus filhos
que se tinha feito idiotas
ouves bem o que digo
sei que tu anotas
tenta ser a criança Índigo
que não compraram com notas
movo as peças do xadrez como Kasparov
eu e a escrita fazemos miséria
Tipo Shevchenko e Rebrov
Não descanso enquanto não tirar a prova dos 9
pego a fogo à tua alma
poesia Cocktail Molotov
aproveita o teu bom senso
é uma dádiva
se jogas pela inveja
o teu cérebro decai como seios de uma grávida
a minha flui como rimas e beats
genial e irreverente
Zlatan Ibrahimovic
comes à grande e à francesa
é tudo a lá garder
tu és romântico e pinga-amor
amigo és a Sic Mulher!

A Sereia de Moscovo





Numa noite chuvosa, onde as gotas tombavam no parapeito como balas
Eu, de robe e pantufas, aquecido por um chá de Tília feito pela minha empregada
Vou navegando com a minha caneta num papel vazio de ideias e conceitos
O aquecedor marca 20 graus centígrados, mas lá fora o frio esvazia as almas
Que a preceito vão canalizando as frustrações na mente de gente vaga
Ouço trechos de Almada Negreiros evocados pela voz sábia de Mário Viegas
Que descreve uma população que passados anos e anos permanecem às cegas
A chuva intensa e supra citada, cria um ribeirinho na rua que desagua nos pés
Duma linda jovem, de tez branca, vestida com uns jeans, uma camisola de gola alta
Cabelo solto, afogado na água que decai dos céus intempestivos, bota de cano alto
Que lhe proporcionavam um andar altivo e demonstrativo duma classe ímpar
Da minha janela, 4º andar direito dum apartamento dúplex na baixa de Moscovo,
Analiso cada movimento teu, como se cada passada se torna-se num fotograma
Mentalmente montado e elaborado por mim, como se de um cineasta se tratasse
Apressas o passo, apressada para chegares a lugar desconhecido, que só tu nesse
“Eu” tão vincado sabes, eu? Compete num ar derrotista por te ter perdido na imensidão
Da praça Vermelha, tentar transportar-te para este texto apaixonadamente libertino
Em palavras, sendo que tal personagem carece de vernáculo próprio e digno para total
E leal descrição de um ser tão belo, que, deambulava por entre o montão de gente
Na rua, como se de um holograma se tratasse.
Meu coração chorava lágrimas de perda, claustrofóbico da tamanha prisão
Afectiva que o estrangulava até calar a sua revolta pela tua ida para parte incerta.
A aparelhagem queima os últimos cartuchos das citações do irreverente Viegas,
Todo eu sou transe, acendo um incenso, acabo o texto extenso, convenço-me
Que talvez, nunca mais volte a ver aquela escultura humana, venço-me pelo
Cansaço. Mudo o álbum do leitor, para ouvir outro senhor, sem ser fadista ou tenor
Canta como poucos a essência do amor e da liberdade, Zeca Afonso, mago das metáforas,
Sem Diáspora, chamo a minha empregada, companheira de 30 anos, para me trazer
Um pouco de mel para adocicar a minha noite, que deixou o meu vazio todo a nu,
De repente! Vejo uma sombra na janela, a passar por entre o magote de pessoas que
Atravessam a avenida, decidida, fugaz, eloquente, atraente, a tónica mente persuasiva
“Serás tu? Arrebatadora visão que me fez perder de vista este de mar de sentimentos que
Me revolve interiormente?”
Não consigo descortinar, vislumbrar se o meu esgar de curiosidade súbita se deve a ti,
Clandestina bonita e bem-feita que ousaste penetrar no meu goto, sem autorização prévia!
Fecho a janela e renuncio à procura incessante do teu “estar”…
Envolvo-me nos meus lençóis e dialogo um texto quase erótico com a minha
Pérfida almofada, que por estas horas é só uma suja amante, porque a principal,
A única, a tal! Essa está lá fora, poderosa como o sol, branca como a lua,
Em quarto minguante!

sábado, 10 de novembro de 2012

Versos alucinados




Os morcegos voam
as bandeiras dão-se ao vento
os bombos atordoam
quem busca o alimento..

Numa noite fria
o castelo vibrava de medo
com a lenda da besta
mulheres de comida na cesta
dão de caras com o segredo
está-se a por o dia
acendem os candeeiros..

A besta é enorme
deita sangue das presas
de olhos fundos e cinzentos
com gestos corriqueiros
transforma tudo em algo disforme
muge tão feroz e aguda
gesticula tão agressiva..

O Reino chora
o rei titubea
o seu povo foi embora
nas mãos da besta com agonia
o sol esconde-se triste pela desgraça
a lua dá a sua face mais taciturna
quando o ser humano fracassa
o diabo irrompe na ala nocturna

Para usurpar a vida
felicidade e alegria
para uma moça desprevenida
entregue à magia negra e porcaria
a besta é nociva
como a inveja humana
que se torna progressiva
para uma mente insana...


quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Explosão Verbal




Já me sinto tão ciente de tudo e ainda tudo está no início
não demora dou em maluco como homens num hospício
vejo as constelações de estrelas a guiarem-me nesta estrada
onde vejo pessoas a mudarem de carácter como se fossem uma fada
gizo linhas e traço triângulos com os ângulos laminados
crio poemas incandescentes que gozam com falsos iluminados
tochas encadeiam a folha onde mora a minha inspiração em forma de tinta
mantenho a diferença ao me comportar duma forma distinta
brilho como cristais nesta escuridão imensa
nunca tentes questionar a minha paixão pela escrita: esta cena é densa
a minha mente já está com elasticidade porque nela faço ginástica
exercito com aparelhos e metáforas contra esta ignorância drástica
como um trapezista russo nunca caí desta gramatical linha
sei quem é aquela gera que nesta arte alinha
não queiras ser parte de um grupo que te mantém aparte
junta-te ao meu povo que quando fale de algo sabe que parte
pacifista, não curto nada de violência ou dicas assim
quando me perguntam se me sinto realizado respondo: Sim
mas ainda assim sinto que o povo podia ficar mais afim
de levar o meu investimento literário até ao seu fim
mas compreendo que empreendo demais para a crise que há
manos não percebem que o meu quarto é como Meca para Alá
e que aqui rezo em prosas como o terço para idosas
ou sou apaixonante em verbos como rosas
com espinhos perfurantes como cobras venenosas!

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Andreia e o destino!






A explosão foi violentíssima, labaredas horrorosas pintavam de um amarelo furioso e ladrão o horizonte que se esfumava nas chamas como uma linha ténue entre o que sobrou e aquilo que foi fustigado como pó pelo fogo hediondo que deflagrava. Andreia, acordou sobressaltada, pelo barulho das ambulâncias, bombeiros, polícia, pessoas a berrar, alarmes a tocar, uma sinfonia quase bélica para quem acorda às 7h00 da manhã, depois de 8 horas de trabalho num supermercado na zona. Era sábado, mas pouco interessava o dia para aquelas afogueadas pessoas que corriam tresloucadas, assustadas e temerárias que um ente seu tivesse desaparecido naquela selva de fumo, calor e destruição que coloria a loja afetada. Andreia, após tomar o seu banho diário, vestir as suas leggins pretas, o seu top branco, casaco igualmente de um preto assumidamente a prever um luto futuro na face desta bela jovem de olhos azulados, cabelo de um castanho tão ténue que soava a mítico, um corpo torneado, resultado de um exercício intenso e diário, desceu no elevador, do seu apartamento T1 situado no 4º andar de um prédio (quase) devoluto que conseguir comprar, a muito custo, com o dinheiro que arrecadava do parco salário do supermercado, para presenciar o reboliço que sem respeito a retirou do sono, com uma brutalidade romana quase. Andreia gelou ao ver o pânico encrostado nos olhos e na face de quase todos os que estavam presentes.  Mas pergunta vocês o que sucedeu afinal? Sucedeu um curto-circuito no quadro elétrico da loja de conveniência do quarteirão, a “Lojinha da Zulmira” foi totalmente arrasada por uma desgraça que vitimou a Dona Zulmira e também três outros clientes que lá se encontravam. Andreia ainda combalida da má notícia, lembrou-se que o seu namorado que dormira junto dela naquela noite, tinha deixado um bilhete a dizer, “Amor, saí mais cedo porque fui buscar leite, ovos, pão e água à Dona Zulmira, já volto”. Andreia bloqueou, a perceção de que, Tiago (nome do jovem), poderia ter falecido na sequência do desastre. Tentou, louca, saber se o seu amor tinha sido um dos mortos, falou com bombeiros, médicos, mas os nervos entorpeciam as palavras e a comunicação foi-se toldando, precipitando-a a correr para os hospitais mais próximos, tentando ao mesmo tempo, encontrar uma frieza quase hercúlea para raciocinar e tentar construir um discurso minimamente coerente para poder saber algo do seu Tiago. O telemóvel permanecia incontactável, num silêncio sepulcral que perpetuava em si as vagas esperanças da angustiada Andreia. Ao dobrar a esquina para a avenida que a levava ao hospital central da cidade, o telemóvel de Andreia toca, do hospital, do outro lado uma voz grave, cuidadosa em cada palavra dita para dizer a horrenda novidade à amada de Tiago, conta de uma forma quase embriagada pela tristeza que o consumia, que Tiago não conseguiu resistir aos gravosos ferimentos infligidos pela queda de um armário em cima do tórax, fraturando a caixa torácica, perfurando os pulmões, acabando por falecer às 10 da manha. O médico disse a Andreia que Tiago lhe pediu, em jeito de último pedido antes de desaparecer do mundo dos vivos, que liga-se a Andreia a dar a notícia, era a única pessoa que amava de verdade. Andreia desligou a chamada e caiu. Na esquina, sentou-se e um surto de choro invadiu a sua alma como se fosse uma coceira no espírito que a incomoda-se de segundo a segundo e lhe trouxesse à memória todo o carinho, amor, amizade, companheirismo, sorriso de menino despreocupado com a vida que Tiago lhe oferecia em doses acima da média normal. Tiago era um garoto de 23 anos, mais novo 4 anos que Andreia que tinha 27. Tiago tinha acabado o curso em arquitetura, dono de um talento invulgar para o desenho, cedo começou a trabalhar o seu dom, desenhando milhares de obras, expostas pela cidade, em exposições que o próprio organizava. Conheceu Andreia numa dessas galearias que expunham os trabalhos do jovem pródigo, amor à primeira vista, numa empatia quase digna de ser descrita por um qualquer romancista apaixonado pela sua musa. A ligação fortificou-se e durou até à aquele dia, nuns 7 anos de namoro que pareciam eternos, até a foice da morte ter sido cruel o suficiente para estender a sua lâmina à vida deste pobre rapaz. Andreia enlutou, durante meses e meses. Pálida, fraca, de expressão triste e agoniada quando a saudade batia como um soco de um pugilista no peito desta humilde mulher, desnutrida porque a comida trazia-lhe um sabor amargo que lhe retirava o brilho. Um cadáver ambulante tomara conta do outrora esbelto, (como já foi supracitado) torneado, firme e de uma beleza que fazia girar muitas cabeças masculinas ao passar nas ruas. As suas colegas de trabalho tentavam aconselhá-la a devagar voltar à entusiasmante Andreia que meses antes criava frisson quando aparecia com a sua diminuta minissaia a trazer à baila as suas galopantes e excitantes pernas que traçavam uma rota muito definido, o caminho da felicidade. A recuperação foi acontecendo devagar, um processo gradual e que contou com a ajuda da sua amiga Jéssica que durante as horas de vil sofrimento a que foi votada, a apoiou, com uma força monstruosa e duma alegria de viver que voltava a contagiar Andreia. Andreia no meio de tanto destroço, encontrou uma luz, brilhante como um cristal puro a entoar o seu fascínio no alto duma montanha esbranquiçada pela neve. A escrita tinha tomado a sua alma como um vício que se propaga silencioso pelo organismo, como o gás que tinha vitimado o Tiago numa manha ensombrada pelo signo do demónio. Andreia escrevia veloz e decididamente como uma gazela corre pelas pradarias de Africa. Desmitificando dogmas, pondo em causa tabu, uma aguçada fonte crítica e criativa começava a desabrochar no âmago desta linda moça, como uma rosa nos primeiros raios de sol primaveril, primeiro tímida e amedrontada, mas depois com uma pujança e força de vontade totalmente extasiante. Quando já conseguia sorrir como dantes, Andreia já tinha material literário para lançar um livro. Utilizou os contactos que tinha estabelecido através da profissão artística do ex-namorado aquando da sua fase de maior fulgor criativo e consequentes apresentações das obras-primas. Acordou um contrato com uma editora das redondezas, o livro chamar-se-ia “ Rasgos Da Minha Consciência” e teria uma tiragem de 2000 livros. Foi organizado o lançamento do livro num centro cultural perto da residência de Andreia, centenas de convites entregues, toda a nata ligada à cultura convidada para tal evento. Chegado o dia, deu-se a apresentação do livro, uma breve declaração de Andreia, do editor e um fado interpretada pela Jéssica, ombro amigo de Andreia nas horas más. 2000 Livros vendidos na noite de lançamento, sucesso profundo, sorriso rasgado, de orelha a orelha na face da autora, parabéns a rodos param um livro que prometia uma leitura deliciosa e apaixonante. O reconhecimento veio com a rapidez de um trovão, mas com o sabor de um chocolate Suíço, a alma de Andreia estava renovada. Mas numa noite, o medo da solidão tomou conta de Andreia. Trémula, hesitante, assustada. Embrulhada nos lençóis da sua cama, Andreia pensava no trilho que tinha de percorrer, agora que toda a gente a conhecia, falar a toda a gente, sorrir, tirar uma foto, tudo! Tudo sem Tiago! Quase já soluçava de tanto chorar, um pombo batia com o bico na janela do apartamento de Andreia, de forma melódica, de tal forma compassada que entusiasmou a bela rapariga a abrir a janela para brincar com tão inusitado animal. Ao abrir a janela, viu que o pombo deixou cair do bico que criava o toque-toque um papel pequeno, quase como um papiro egípcio, que continha uma mensagem escrita a tinta e numa letra duma perfeição quase insultuosa para o comum mortal. Andreia abriu a mensagem e ao fazê-lo, o pombo abriu as asas brancas como cal e voou, voou até ao infinito, até se resumir a poeira brilhante como diamantes, ao estilo da mais fantástica fénix! Ao ler a mensagem, Andreia estremeceu, esqueleto remexeu como um terramoto dentro dos próprios ossos.  Dizia: “ Amor, nunca te abandonei, deixei-te fisicamente, mas continuo a velar pelo teu futuro, sentado à tua cabeceira quando choraste horas a fio, perdida no mar de piranhas e num jardim de cobras que foi a tua mente durante dias e dias. Sei que lançaste um livro, fico feliz por teres descoberto essa tua forma tão mágica de expressar a tua doce forma de ser, olhar, falar, tratar e tocar no próximo. Quando acabares de ler esta mensagem, uma estrela brilhará no céu. A nossa estrela, dona de uma luz tão única que a criei só para ti, como criei dezenas de desenhos, lembraste? Amo-te meu amor!” Ao acabar de ler a mensagem vinda do além, Andreia, embevecida pela surpresa do seu anjo da guarda, olhou o céu profundo uma ultima vez naquela densa noite. E no meio do breu, uma estrela cintilava de forma inexplicavelmente fogosa, Andreia beijou a mensagem, como se beija-se os lábios do seu grande amor, fechou a janela com a suavidade de quem acabou de ser amada duma forma pura e humilde, deitou-se na cama, confortável, mas ao fechar os olhos, um rasgo de luz tomou a sua janela, com uma frase lá redigida.
A frase era: “Nunca peças o mundo quando só precisas de mim. Dorme bem meu amor”
E Andreia dormiu, feliz, calma, amada e acompanhada pelo seu menino.
Rui Castro.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O caos citadino!




Acordei eram perto as 15 horas..
chovia, num chover tão intenso como balas
o céu balançava como um pêndulo entre o vermelho e o cinza
o frio trespassava os pulmões como punhais pontiagudos
eu? Eu, andava pela casa, atordoado pelas 10 horas de sono
perdido entre os demónios diletantes da minha mente
passado 1 hora, acalmo, já encontro maior paz no meu âmago
a brasa que flamejava nos meus olhos tomou a forma de um mar apático
vou ao chuveiro, água quente a beijar os ombros como lábios duma princesa
a minha alma aconchega-se no calor como um gato em cobertores
as dores no espírito suavizaram como se me fosse ministrada morfina
visto-me, uma roupa pouco vistosa, estilo urbano quanto baste
pego nos euros, já de si raros, que ainda sobram da noitada de ontem
telemóvel já vibra como um clamar furioso pela minha pessoa
ganho coragem para sair de casa, enfrentar a selva de betão
toda a agitação, barulheira, stress citadino e cinismo me paralisam
coisas que vão muito para além da minha imaginação
défice hediondo de solidariedade corrompe tantas pessoas
chego ao café, peço a tradicional Coca-Cola só com limão
trago o jornal diário comigo para me deleitar com centenas de desgraças
roubos, assaltos, homicídios, suicídios, violações
aumento de impostos para quem já pouco aufere
tento-me situar, as chamas voltaram a inundar-me a retina
sinto-me uma presa fácil neste mundo comandado por leões famintos
acabo a Coca-Cola, visto o casaco de malha
recolho a casa, cabisbaixo, alienado da realidade assustadora
assombroso o luar que já me cobre como um anjo da guarda
chego a casa, ligo o portátil já envelhecido
ponho um som, calmo, relaxante, como terapia
solto palavras para tentar descrever a insanidade que cerca o mundo
escrevo, escrevo, escrevo horas a fio como um viciado
clandestino, fechado no quarto como se em segredo viaja-se
mas cada frase é pouco para relatar aquilo que me mata a cada dia
são 04:30, hora de largar a escrita e ir para a cama
nave espacial de valor imensurável que comprei já faz uns anos
viajo nesse meu mundo tão meu, tão próprio , peculiar no fundo
durmo, durmo e durmo
o sono alimenta-me como se fosse uma refeição abençoada
acordo noutro dia, trôpego, intoxicado pelo veneno da rua
olho pela janela, tudo igual..
deito-me a dormir mais um par de horas
de volta ao sonho que me abria o sorriso horas antes
só sou feliz no paraíso da mente
naquele que criei como carinho
com se fosse precioso
como se fosse um filho!

domingo, 4 de novembro de 2012

O Lobo




O lobo uiva na colina.
Porquê?
Faço esta pergunta vezes sem conta
E a minha alma nunca encontra resposta.
Excitado com doses industriais de adrenalina
O Lobo sente falta de alguém que amou
Durante décadas.
Justo? Justíssimo!
Legítimo sofrimento de um coração
Estilhaçado como um vidro quebrado.
O Lobo chora num lacrimejar suave
E sombrio, rara tal suavidade.
Cada serra percorrida por este
Canídeo se torna num desfile
De aparições, alusões, ilusões
Ou simplesmente construções
Do hipocampo, campo amplo de ensaios
Episódicos.
Cada canto se transforma numa memória
Quase fotográfico
Horror pornográfico que cerca o Lobo
Como um bando de caçadores
Caça às dores!
O Lobo sucumbe à herança pesada
E expropriada de lógica que a geração transacta
Lhe colocou nas costas como um fardo.
De olhos vagos e andar trôpego
O Lobo já caminha sôfrego
Mesmo andando ao ar livre
Sente-se enjaulado como uma fera
Num circo homicida que assassina espíritos
Selvagens como se fossem hereges.
Bloqueado num beco sem saída
Tenta por termo à vida
Mas o demónio da culpa por não
Ter tentado
É sádico demais para uma resolução
Tão pacifista de acalmar o monstro que berra
Citação para solicitações de catacumbas e afins.
O Lobo reduz-se à sua mínima insignificância
Tão insignificante que não resta cor, traço,
Esgar, reacção, acção, nada!
Só resta um monte moribundo
De pelagem,
Corpo esventrado pela ceifa sagaz
Da justiça do destino.
Pela cobardia do Lobo em lutar
O juiz condenou-o a provar
O veneno do amor.
Se é Justo? É.
Ninguém tem o direito de não lutar
Por quem ama.
Perder ou ganhar é jogo.
Não lutar? É crime!
Boa noite!



sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Mara!






Mara, não vás embora.
Eu sei que as coisas estão más
Que não aguentas mais e que por muito
Que lutes, parece que tudo tem tendência
Para vir para trás.
Mas Mara, a vida não para, não estanca
E desanca na tua alma sem calma
Abrindo uma ferida que após tanta pancada,
 Já não sara.
As tuas lágrimas de sangue já tingem
O teu vestido branco-pérola de um
Vermelho meio enegrecido.
Choras horas a fio ao saber que o teu
Pai foi despedido
Mais um enfraquecido por um sistema
Alimentado por um ódio repressivo
Agressivo e impulsivo.
Fazes as malas para tentar a sorte
No estrangeiro
Tiras o dinheiro do mealheiro
Mas quando tentas ser otimista
A raiva vem em primeiro.
Mara, a tua cara tornou-se uma caveira
Já não mostra traços da tua craveira
Andas perdida e atónica,
Sem eira nem beira.
Definhas longe da família
Dos amigos e do namorado
Num país enregelado, pintado de cores
Mortiças e pouco apelativas
Numa língua que não dominas
E pensas porque será o destino tão
Cruel ao ponto de ditar estas sinas.
Mara, no teu país o teu irmão
Perde-se nas ruas com drogas nas mãos
Como se fossem brinquedos
Sem medos, iludido pelo brilho
Dos olhos dos outros enredos
Conferido pela pasta fácil por meio
Duma substância ilícita,
Rodada no meio do povo
De forma explícita.
Mara, não vás embora
Ignora o fora que o teu país te deu
Quando adormeceu e favoreceu
Quem não pôs os pontos nos Is
Não tendo coragem para cortar o mal
Pela raiz.
Não vás, Mara!

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Nasci para a escrita!


Nasci para a escrita
Descrita como proscrita
Neste país no lixo mergulhado
Orgulhado do afilhado
Que se humilha até ser humilhado
Molhado pela chuva ácida
Que deixa a rima flácida
Como a da Plácida que redige
Por interesse nesse estatuto
Vê-se o quão ele é culto
Puto ficou quando o poema
Fincou e vincou que não podia
Fazer tanta asneira quando
Já era adulto.                     
E eu rimo a ouvir Samuel Mira
E ele a palavra acesa atira
Com força sem que ela fira
Mas brilhante como uma safira
Nós os dois somos antigos
Como o Escudo ou a Lira
Ou cinema a preto e branco
Que víamos sentados no banco
Da sala lá no centro comercial
Marcial elenco que me apaixona
A minha e à dona
Uma questão de tempo
Até poder por a mão noutra zona
Maroto como o Sapo Cocas
Acabou o sumo e as pipocas
Agora só querem chouriço
Que lote de badalhocas.
Argumento que me alimento
Do momento em prometo
Que não meto o nariz onde
Não sou chamado
Tipo um puto do gueto
Que acaba de ser catado
Acatadas ordens é o que tenho feito
Sim sou bom mas não sou perfeito
Não posso andar de peito feito
Feito morcão
Porque na rua a lei é dura
E não há salvação, não!

                                                                

domingo, 28 de outubro de 2012

Dica!


Estou farto de ouvir oprimidos
Que na sua ignorância assumida são comprimidos
Não curto deprimidos profissionais
Fechados no quarto e atolados em comprimidos
A minha família cresceu a saber sentir a dor e a tristeza
Muitas vezes vazios de ideias e sem comida na mesa
Reza para que isto mude na mona desses políticos demitidos
Omitidos e esquecidos, pelo calor da bosta são aquecidos
Vocês sofrem de bug no software, tipo cenas informáticas
Eu falo de vários assuntos na poesia, Mixórdia de Temáticas
Estico as vossas consciências como se fossem elásticas
Faço injecção de saber nos vossos neurónios, operações plásticas
Sou puro, não guarda pedaços de rancor ou mágoa
Tu tens o pénis murcho como uma rosa sem água
Estas a dar de arrogante e maniento, não curto dicas copiadas
Sou apaixonado pela arte pura, rimas à luz da lua inventadas
100 Barras na barra onde treinei tanto até ficar barra
Vejo tantos vestidos de formigas a viver à conta da cigarra
Adoro ouvir um gajo a cuspir tiradas ciente das cenas
Sem altas roupas, só com o material verbal, tipo mecenas
Corres atrás das câmaras, pareces o Tintim
Eu corro a frente da polícia, está criado o motim
Métrica esdrúxula, criativa, imaginativa, fantasista e romancista
Dou à luz frases que voam como o vento, chama-me violinista
Eras gozado por seres rico mas teres inteligência parca
Leigo, medroso, populista, perfil ideal de autarca
Cúpula de rimas e conexões literárias, combinações várias
Se for preciso ficar até altas horas, fico até as horas necessárias
Tu até coras quando rimo com engenharia fabulosa
Construo engenhocas com metáforas, capacidade primorosa
Primo eu primo por uma escrita limpa e sem pontas soltas
Quando primo o botão da caçadeira cerebral, até bazas com escoltas
Indústria com linha de montagem de sonetos, quando faço arte, até ferve
Estrado de transe avançado, difícil haver algo que me enerve
Vinte e três anos a fazer poesias e prosas
Aprendes-te a respeitar e a não gozar
Onde eu via perigo e espinhos, tu só vês rosas
Vocês só conseguem ter um fã se conhecerem o vosso sósia
Rio-me quando vos ouço a menosprezar
Coitados dos desgraçados
Precisam de me ver passar
Para tentarem ser engraçados
Sejam reais e não bonecos amestrados
Com gravatas apertadas apressados prós mestrados
Com professores comunistas
Sedentos de dinheiro e pertencentes a listas
De organizações e sindicatos
Com uma foto já velha com cara de urso e camisola às listas
Tipo moços de recados
Dá tudo e tudo faz para poder ganhar causas
Tu tentas fazer linhas e textos, mas só fazes pausas
Entregas o documento com frases minhas e diz que tudo se ri
Mas quando ando na rua, ninguém pergunta por ti
Incógnito, como filhos de pai desaparecido
A tua mãe já teve tantos homens
Com nenhum és parecido
Agora a tua mãe está arrependida
Pelo médico, naquela tarde, ter aparecido
E tirar para fora este ser eunuco e inútil
E como gajas da linha, vazio e fútil
Vou dar o poema por terminado
Cuidado com os pés
O campo está minado
Com rimas minhas no subsolo
Não passas de um puto mimado
Até acasalar tenho que te levar ao colo!