terça-feira, 30 de outubro de 2012

Nasci para a escrita!


Nasci para a escrita
Descrita como proscrita
Neste país no lixo mergulhado
Orgulhado do afilhado
Que se humilha até ser humilhado
Molhado pela chuva ácida
Que deixa a rima flácida
Como a da Plácida que redige
Por interesse nesse estatuto
Vê-se o quão ele é culto
Puto ficou quando o poema
Fincou e vincou que não podia
Fazer tanta asneira quando
Já era adulto.                     
E eu rimo a ouvir Samuel Mira
E ele a palavra acesa atira
Com força sem que ela fira
Mas brilhante como uma safira
Nós os dois somos antigos
Como o Escudo ou a Lira
Ou cinema a preto e branco
Que víamos sentados no banco
Da sala lá no centro comercial
Marcial elenco que me apaixona
A minha e à dona
Uma questão de tempo
Até poder por a mão noutra zona
Maroto como o Sapo Cocas
Acabou o sumo e as pipocas
Agora só querem chouriço
Que lote de badalhocas.
Argumento que me alimento
Do momento em prometo
Que não meto o nariz onde
Não sou chamado
Tipo um puto do gueto
Que acaba de ser catado
Acatadas ordens é o que tenho feito
Sim sou bom mas não sou perfeito
Não posso andar de peito feito
Feito morcão
Porque na rua a lei é dura
E não há salvação, não!

                                                                

domingo, 28 de outubro de 2012

Dica!


Estou farto de ouvir oprimidos
Que na sua ignorância assumida são comprimidos
Não curto deprimidos profissionais
Fechados no quarto e atolados em comprimidos
A minha família cresceu a saber sentir a dor e a tristeza
Muitas vezes vazios de ideias e sem comida na mesa
Reza para que isto mude na mona desses políticos demitidos
Omitidos e esquecidos, pelo calor da bosta são aquecidos
Vocês sofrem de bug no software, tipo cenas informáticas
Eu falo de vários assuntos na poesia, Mixórdia de Temáticas
Estico as vossas consciências como se fossem elásticas
Faço injecção de saber nos vossos neurónios, operações plásticas
Sou puro, não guarda pedaços de rancor ou mágoa
Tu tens o pénis murcho como uma rosa sem água
Estas a dar de arrogante e maniento, não curto dicas copiadas
Sou apaixonado pela arte pura, rimas à luz da lua inventadas
100 Barras na barra onde treinei tanto até ficar barra
Vejo tantos vestidos de formigas a viver à conta da cigarra
Adoro ouvir um gajo a cuspir tiradas ciente das cenas
Sem altas roupas, só com o material verbal, tipo mecenas
Corres atrás das câmaras, pareces o Tintim
Eu corro a frente da polícia, está criado o motim
Métrica esdrúxula, criativa, imaginativa, fantasista e romancista
Dou à luz frases que voam como o vento, chama-me violinista
Eras gozado por seres rico mas teres inteligência parca
Leigo, medroso, populista, perfil ideal de autarca
Cúpula de rimas e conexões literárias, combinações várias
Se for preciso ficar até altas horas, fico até as horas necessárias
Tu até coras quando rimo com engenharia fabulosa
Construo engenhocas com metáforas, capacidade primorosa
Primo eu primo por uma escrita limpa e sem pontas soltas
Quando primo o botão da caçadeira cerebral, até bazas com escoltas
Indústria com linha de montagem de sonetos, quando faço arte, até ferve
Estrado de transe avançado, difícil haver algo que me enerve
Vinte e três anos a fazer poesias e prosas
Aprendes-te a respeitar e a não gozar
Onde eu via perigo e espinhos, tu só vês rosas
Vocês só conseguem ter um fã se conhecerem o vosso sósia
Rio-me quando vos ouço a menosprezar
Coitados dos desgraçados
Precisam de me ver passar
Para tentarem ser engraçados
Sejam reais e não bonecos amestrados
Com gravatas apertadas apressados prós mestrados
Com professores comunistas
Sedentos de dinheiro e pertencentes a listas
De organizações e sindicatos
Com uma foto já velha com cara de urso e camisola às listas
Tipo moços de recados
Dá tudo e tudo faz para poder ganhar causas
Tu tentas fazer linhas e textos, mas só fazes pausas
Entregas o documento com frases minhas e diz que tudo se ri
Mas quando ando na rua, ninguém pergunta por ti
Incógnito, como filhos de pai desaparecido
A tua mãe já teve tantos homens
Com nenhum és parecido
Agora a tua mãe está arrependida
Pelo médico, naquela tarde, ter aparecido
E tirar para fora este ser eunuco e inútil
E como gajas da linha, vazio e fútil
Vou dar o poema por terminado
Cuidado com os pés
O campo está minado
Com rimas minhas no subsolo
Não passas de um puto mimado
Até acasalar tenho que te levar ao colo!

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Sorriso


Um sorriso abre as portas para o mundo
Para o nosso mundo, no qual lutamos
Durante dias e dias com agonias e alegrias
Imundo ou profundo, é igual, nele eu me afundo
Redijo palavras com a tenacidade de um poeta
Com a imaginação de uma criança, ou a velocidade dum maníaco
Nada hipocondríaco, não invento dores para me desculpar
De algum fracasso no que faço, sempre duro como o aço
Talento titânico que se destilando lentamente no papel
A seu belo-prazer como uma serpente na floresta, é mel
Saber que a vida vive duma imprevisibilidade abrupta
Encerrada numa deliciosa ironia quase ininterrupta
Corrupta a forma como vários tentam fechar a ligação
Vivendo em permanente estado de negação, frustração
Castração de intelecto, dialecto diferente mas o mesmo protejo
Acabar com o que de bom se faz neste recanto da minha alma
Perco a calma, fico sério, colérico, distante como um teleférico
Elevo-me até a altura do meu espírito, crítico e granítico
Num pedestal elevado à quinta potência do cume da magnificência
Omnipresença na evidencia da cadência verbal onde o crucial
É criar um celestial fruto para fazer usufruto, feitio resoluto
Abro consciências com um bisturi, aqui há milhares de crânios perfurados
Impregnados, rachados, estudados, dissecados, secos, lado a lado
Em filas como se fossem becos.

A vida da rua!

O frio toma conta da rua
a chuva já tomba como lágrimas na calçada
cansada de ser pisada por quem não merece
acontece a prece não ser atendida
uma mulher ri, um homem chora
um velho soluça, um jovem ignora!

O pardal esvoaça nos céus tão seus
adeus! Adeus a esta impregnada
viela, tão bela, iluminada por uma vela
muitos vão de vela antes de entender
que na rua, nada é sua mas tudo é dela!

O ardina que atina com uma menina
que vende o corpo num desconforto
no porto onde atracam as caravelas.
vejo a cara delas, suada e sofrida
marcas da vida, que duramente
foi passada!