O Velho Misterioso!
Numa escadaria escura e sombria, abria-se uma porta torta
que fazia um ranger assustador como morrer numa forca. Eu subia essa escada,
assustado e de sangue gelado nestes tubos de ensaio que são as minhas veias,
degrau a degrau vou ficando cada vez mais próximo da entrada de um mundo
desconhecido onde a surpresa mora atrás de cada esquina. A minha sina é ser
perseguido por demónios alucinantes, lancinantes dores interiores que me
perfuram a caixa torácica. A porta aberta vai deixando antever um brilho de um
branco espesso e apático quase como uma prisão de solidão e marasmo que
adormece o espirito e aprisiona-o numa cela de inércia. De dentro deste paraíso
sádico entoa uma voz cavernosa, obscura e rouca como se o diabo fosse um ser
provido de aparelho vocal. Essa voz disparava palavras de ordem contra a minha
pessoa, como se de um atentado verbal anárquico de um qualquer protestante sem
rosto mascarado por uma imensa aura branca se tratasse, e eu, aturdido numa dor
sórdida, ia completando a curva ascendente, iluminado por candelabros acesos
com fogo e azeite, as paredes revestidas de um já musgoso papel de parede com
inscrições em hebraico e imagens de seres da fantasia da idade média. Pé ante
pé, finalmente alcança o cimo da célebre escadaria, uma luz ofuscante tolda-me
a visão, como uma espetacularidade assombrosa que parecia o prefácio para a
poesia sobre-humana que se iria abater sobre o meu cabisbaixo momentos depois.
Reabro os olhos, timidamente, ainda meio cego de tanta luz, caminhei perdido,
sem direção num rumo desconcertado, os meus pé guiam-se numa autonomia quase bíblica,
durante minutos pareço um comboio desgovernado à beira do descarrilamento
abrupto, mas num repente avisto ao fundo, sentado num trono ornamentado por ouro
e prata, numa luxúria quase insultuosa num deboche gritante, um homem velho,
desgastado pela efeméride que faz questão de o atraiçoar a cada passo dado em
falso. Na sua voz mórbida vocifera frases cheias de acidez e lascas para
incendiar qualquer alma. Mantenho-me firme na minha aparente acalmia e
pergunto-lhe o que pretende de mim para me enviar tão insólito convite. 30
Segundos passaram, numa contagem decrescente num ritmo vertiginoso, até que o
velho se manifesta com sua deliberação sobre a minha questão, diz ele que
escolheu-me para fazer parte de um movimento que vai revitalizar o mundo, num
rasgar de horizontes sem paralelo, para queimar de vez os dogmas que bloqueiam
a engrenagem que faz evoluir o planeta. Seria o seu porta-voz no que seria o
novo acordar do gigante adormecido que é o homem enquanto peça-chave do xadrez
que pode devolver à população a pureza que ela perdeu com o degredo da mente.
Penso e repenso na proposta, ponderação profunda como introspeção. Quando por
fim alicerço uma resposta convicta, dirijo-me ao velho e digo-lhe que aceito
ser a voz da mudança, o porta-estandarte da nova geração que vai revolucionar o
mundo tal como o conhecemos. Velho sorri, seus olhos brilham como esmeraldas, o
seu verde vivo impulsiona lhe o viver. Então ele diz que tenho que espalhar a
sua palavra em forma de escrita e que me abençoou com esse dom no momento em
penetrei no seu templo. Olhamo-nos de frente durante 5 longos minutos, fundo
como uma raposa visa a sua presa e após esses momentos de concentração e
leitura mental, pergunto-lhe o seu nome, curioso para deslindar quem seria
aquele homem com ar de deus grego que me convidava a ser seu seguidor e porta-voz.
Ele, com a certeza e forma de que se formam os génios, diz: “ eu meu caro discípulo?
Eu sou quem te guia, quem te diz o certo e o errado e quem quer que tu espalhes
essa mensagem ao mundo, eu sou aquilo e quem te conhecer melhor, sou a tua
consciência”…
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