“….Expresso ensombrando pelas aves agoirentas que por cima
de si pairam, numa vigilância quase diária. Bando negro de patrulha dos céus
que cobrem este nosso mundo. Viajo neste expresso que mais parece a arca de Noé
em versão malévolo vejo pessoas sem braços, sem cabeça, olhos pintados de um
cinzento demoniacamente subtil, nas veias destes seres não flui sangue, flui
maldade em estado líquido, escorre vertiginosamente como se compassa-se a
velocidade da carruagem em direcção à gare do inferno. Vejo bruxas criando
aberrações com experiências mal concebidas, feitiços mal feitos, magia negra
que pinta de um negrume intenso os vidros que não deixam transparecer para
dentro, a imagem de destruição desumana que irrompe pelos olhos de quem foge
destes diletantes que incendeiam, destroem, esmagam, liquidam e aniquilam quem
lhes ousa fazer frente. A babilónia tomou conta dos destinos da nossa
existência. Queimaram a flora, mataram a fauna, aprisionaram as massas em celas
de bloqueio mental, dentro de 4 paredes, com um baixo pé direito, quase como
uma cave. Tornaram os seres humanos em ogres oprimidos sedentos de vingança,
morte e pandemónio. Roleta russa de invenções, torturas e mutilações, tipo um
filme do Tarantino. Um bafo a cadáver emana das profundezas do expresso, tenso
ambiente, olhos de vidro incrustados na face de quem a tem, outros especulam
gestos como se quisessem dizer algo que lhes está entravado na traqueia à anos
a fio… é o expresso…”
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