domingo, 4 de novembro de 2012

O Lobo




O lobo uiva na colina.
Porquê?
Faço esta pergunta vezes sem conta
E a minha alma nunca encontra resposta.
Excitado com doses industriais de adrenalina
O Lobo sente falta de alguém que amou
Durante décadas.
Justo? Justíssimo!
Legítimo sofrimento de um coração
Estilhaçado como um vidro quebrado.
O Lobo chora num lacrimejar suave
E sombrio, rara tal suavidade.
Cada serra percorrida por este
Canídeo se torna num desfile
De aparições, alusões, ilusões
Ou simplesmente construções
Do hipocampo, campo amplo de ensaios
Episódicos.
Cada canto se transforma numa memória
Quase fotográfico
Horror pornográfico que cerca o Lobo
Como um bando de caçadores
Caça às dores!
O Lobo sucumbe à herança pesada
E expropriada de lógica que a geração transacta
Lhe colocou nas costas como um fardo.
De olhos vagos e andar trôpego
O Lobo já caminha sôfrego
Mesmo andando ao ar livre
Sente-se enjaulado como uma fera
Num circo homicida que assassina espíritos
Selvagens como se fossem hereges.
Bloqueado num beco sem saída
Tenta por termo à vida
Mas o demónio da culpa por não
Ter tentado
É sádico demais para uma resolução
Tão pacifista de acalmar o monstro que berra
Citação para solicitações de catacumbas e afins.
O Lobo reduz-se à sua mínima insignificância
Tão insignificante que não resta cor, traço,
Esgar, reacção, acção, nada!
Só resta um monte moribundo
De pelagem,
Corpo esventrado pela ceifa sagaz
Da justiça do destino.
Pela cobardia do Lobo em lutar
O juiz condenou-o a provar
O veneno do amor.
Se é Justo? É.
Ninguém tem o direito de não lutar
Por quem ama.
Perder ou ganhar é jogo.
Não lutar? É crime!
Boa noite!



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