quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Diário de um estudante.





Diário de um estudante.

“Atenção, atenção!
Vem aí o professor!”
Dizia a Cristina, uma loira estonteante,
Que era da minha turma.
Estava uma algazarra pegada na sala de aula
Conversas paralelas, burburinho incessante,
Alunos sentados em cima da mesa, num ar
Descontraído, como se a sala fosse o começo
Do recreio. Mas após o anúncio da loiraça,
Num minuto, todos se sentaram, puxando
Pela concentração e fechando atrás dos lábios
Um qualquer sorriso maroto que restava de uma
Piada acabada de contar no tempo limite do toque.
“Olá a todos, hoje vamos falar vossa infância”
Era o professor Paulo Acácio,
Professor de filosofia, por estar no 10º ano
De humanidades, uma das disciplinas
Que comecei a ter foi a filosofia.
“Da nossa infância Stor?”
Perguntamos em uníssono
Espantados pela singularidade da temática
Escolhida para a aula de hoje.
“Sim! Cada um de vocês vai falar
De como viveu a infância.”
A aula foi passando,
Cada um foi abordando o assunto
De acordo com aquilo que viveu
Uns felizes, outros mais tristes,
Mas todos falaram.
Faltam 2, eu e a Érica.
Eu falei na boa, tranquilo:
“Professor, adorava jogar à bola,
Ver desenhos animados, brincar
Com bonecos de super-heróis,
Como Batman, Homem-aranha,
Entre outros. Tive uma infância normal
E feliz”
Disse eu no meu jeito despreocupado
E de quem está de bem com a vida.
A última era a Érica, que era uma miúda recatada
Baixa, gordinha, cabelo castanho, uns olhos de um verde
Esmeralda, mas cobertos por uma película de tristeza.
“Como todos já falaram da sua infância, faltas tu
Érica. “
Passaram 5 minutos e a Érica timidamente
Começou a falar.
“ A minha infância foi difícil.
Devido a minha fisionomia, era gozada,
Humilhada, chamada de gorda, feia pelos colegas
De turma. O ambiente em minha casa nem sempre
Foi o mais indicado para o crescimento de uma criança.
Os meus pais trabalhavam numa feira, mal estavam em casa,
Fui criada por uma tia,
Ajudava na mercearia dela,
Chorei muito fechada no quarto,
Imaginando ter uma turma de que gostasse.
Onde fosse respeitada, ouvida e elogiada.”
As lágrimas corriam no rosto da Érica como
Sprinters numa corrida.
A turma estava fixada toda no testemunho
Da nossa colega,
Os corações batiam com uma velocidade
Acima da média, para a 3º aula de filosofia do ano.
 Érica terminou o seu testemunho, dizendo:
“ Quero agradecer ao professor
Por me ter feito desabafar disto
Que me atormenta.
Tenho gostado dos meus amigos novos.
E espero que me vejam como eu sou.
Uma pessoa normal, amiga, adorava ser feliz
Com estes novos amigos”
O Professor agradeceu à Érica,
Com a voz embargada em emoção.
Eu levantei-me, como um rasgo de loucura
E bati palmas, senti que aquilo vinha do coração,
Era genuíno. Num ápice toda a turma se levantou
Num gesto de homenagem pela coragem da nossa
Nova amiga.
Isto passou.
Passado uma semana:
A Érica mais integrada,
Por esforço dela e da turma,
Num ato de ajuda para que
Se pudesse melhorar a vida
Da nossa colega,
Perguntou ao professor se podia
Ler um recado que a tia lhe tinha escrito
No caderno, quando a sobrinha lhe contou
O que tinha acontecido na aula de Filosofia.
E o Professor Paulo Acácio, assentiu de imediato,
Assim sendo a nossa amiga passou a ler o recado:
“ Senhor professor queria-lhe agradecer por tamanho
Gesto de bondade para com a minha sobrinha.
A vida dela não foi fácil, mas ao permitir-lhe que ela fala-se
De tudo, tirou-lhe um peso enorme das costas.
Agora tem gosto em ir para a escola, aprender coisas novas.
 E uma palavra aos seus colegas de turma,
Por terem feito para a integrar no seio do seu grupo.
A todos um grande obrigado, Sónia “
O sorriso não cabia nos lábios do professor!
Os olhos brilhavam.
Depois de limpar a voz da alegria e excitação
Do momento,
Disse-nos, a nós turma, um par de frases
Com muito conteúdo.
“ Miúdos, a filosofia tem como
Matriz, melhorar o ser humano através
Da sua mente. Limpar o que de mau existe nela
Para se poder viver de acordo com o meio
Em que estamos. Hoje sinto que ajudei
Alguém a ultrapassar uma má fase.
A abrir uma nova estrada no caminho da vida.
Isto será útil na vossa vida.
Saberem ultrapassar os problemas
Com destreza e coragem.
Obrigado a todos!”
Eu, Rui, dantes era despreocupado
Com as lições da vida
Agora, ao ir para a pastelaria
Do costume, com os meus amigos
Pensava naquilo que se tinha passado
Na aula.
Enquanto os meus amigos discutiam futebol,
Miúdas, músicas, eu estava parado no meu canto
Calado e pensativo.
Um amigo meu perguntou-me,
“Então Ruizinho? O que tens?”
E eu respondi logo de seguida.
“Na duas últimas aulas de Filosofia
Senti que a vida dos outros diz muito
Daquilo que poderá ser a nossa vida.
E a partir de agora vou começar a
Ser mais atento aos problemas dos outros”.
Acabamos o lanche, fomos para casa
Depois de tomar um banho, estudar
(ou tentar pelo menos)
Liguei o computador
E escrevi tudo o que se passou
Nessas duas aulas.
Para que quando me queixar de um
Problema, me lembre que bem próximo
Pode estar um caso bem mais sério.

Rui Castro.

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